Escritores nascem e morrem muitas vezes, bem mais do que os comuns mortais. Dominam a arte de devorar e ser devorados, como presas e feras na mesma pele.
Mesmo esmagados e machucados por si próprios ou por outros, conseguem se recuperar, reconstruindo-se com os retalhos de palavras, ideias e pedaços de histórias.
Escritores matam mais do que imaginamos, mesmo que apenas na vontade. Parecem calmos e silenciosos por fora mas aniquilam sem remorso personagens, ideias, textos, contos e até romances inteiros.
Lá no fundo sentem-se como deuses, provando o poder ilimitado da imaginação e sentindo a força incontrolável dos sentidos e das emoções que respiram.
Seus sonhos não são comuns. E facilmente tornam-se pesadelos, premonições e paranoias. E assim criam fantasmas e medos para sua própria mente.
Enlouquecem acordados ou dormindo, fugindo do nada, convivendo com demônios e santos, tragédias e êxtases, como que perseguidos por suas próprias criações e personagens. Escritores criam e destroem com a mesma facilidade. E pela intensidade deste processo muitas vezes saem profundamente machucados, como anjos que perderam asas. Ou purificados, como assassinos e traidores repentinamente perdoados. Ou melancólicos, como um artista que que sabe que criou algo importante e não sabe o que fazer com o vazio que ficou.
Escritores às vezes se acham mesmo imortais, e voam tão alto que perdem seu chão. E também facilmente se sentem o último dos mortais, tão pequenos e inúteis que preferem se isolar, como se nem existissem.
Quando ficam paralisados ou sentem que perderam seu dom de escrever e criar, morrem mesmo de verdade, ainda que vivos.
Escritores são extremos. Em qualquer momento da história ou época, vivem além do seu tempo, vendo e sentindo coisas que ninguém percebe. Escritores leem sempre com muita sede e muita fome, devorando as palavras.
Ao mesmo tempo que escrevem conseguem ler seu destino e futuro. Como se tudo estivesse escrito na própria pele. E nem por isso entendem ou se satisfazem com o que descobrem e vivem.
Querem sempre mais. Sempre procurando a melhor palavra, aquilo que ainda não escreveram ou invejando aquilo que não foi escrito por eles. Escritores amam e odeiam outros escritores.
Poucos entendem, mas o escritor vive num espaço manchado de suor, sangue e lágrimas. Muitos rastros e eventos misturados, muitas palavras entrando e saindo de sua cabeça, sem parar.
Um escritor sempre perde mais do que ganha; sempre se desencontra mais do que se entende, sempre morre mais do que vive.
Um pouco do escritor vai-se embora em cada livro ou texto que escreve.
Ele sabe disso e vive por isso, num impulso contínuo de escrever e tentar se dissolver em milhares de palavras.
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