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Teatro

Às favas com os homens que as mulheres vão à luta
Isabel Bonorino

Se estiver esperando uma comédia com piadas prontas, esqueça. Às favas com os homens que as mulheres vão à luta é um bom exemplo de teatro com jeito de teatro: uma peça para refletir ou correr o risco de sair por aí dizendo que não entendeu o final. Aí, peça pra sair!


Na peça, eles querem a mesma coisa, mas de formas diferentes. Foto: divulgação.

Um jovem casal, classe média, talvez juntos há uns 5 anos. Ela, decidida a apimentar a relação, tenta alternativas para fazer com que o marido seja menos burocrático na cama. Com práticas como meditação e kama sutra, ensinadas em uma confraria, Telminha (Daniela Lima) tenta chamar a atenção de Edgar (Pedro Delgado) para outro universo possível. Porém, que homem em sã consciência vai ter paciência de, depois de um dia cansativo de trabalho, ficar à disposição dos caprichos de sua mulher, que o obriga a fazer algo que ele não está a fim? Com esse conflito começa a peça (do mesmo autor de Q os homens pensam q as mulheres pensam), que conta com a discreta simpatia do público pelas personagens, levando-o a um leve sorriso ou à menção do mesmo.

A metáfora sobe ao palco

A trama dácontinuidade ao trabalho já abordado em peças anteriores de Delgado, baseado na investigação das relações humanas e no discurso sobre gênero. É claro que quem vai assistir à peça de repente não tem noção sobre os diversos significados embutidos em sua construção temática, pois de superficial, Delgado nada tem. Ele aborda a reflexão da sociedade a partir dos anos 80, do movimento feminista, passando por aspectos da teoria Queer, que repensa a sociedade através do estudo sobre homem e mulher, vistos pela evolução histórica, construída pelo olhar masculino. Porém, agora, há um novo olhar, que está sendo construído a partir desses movimentos, onde há a inversão de costumes, seja da forma de vestir, de agir, de sentir e de pensar. O diretor aproveita também a bagagem adquirida em sua formação no curso de História e mostra, sutilmente, o resultado dessa mudança de comportamento nos dias de hoje. Vê quem quer, ou quem tiver uma percepção mais aguçada. Talvez a peça e a reflexão seriam mais óbvias para o público se o elenco fosse formado por atores já consagrados, pois a obra de Delgado é exatamente naquele estilo intelectualizado que faz sucesso por aí: “Vi, não entendi algumas partes (ou o final), mas aquelas sacadas da Fernanda Torres foram muito boas. Gostei”.

Abaixo o cartão-ponto! Abaixo o cartão-ponto!
Abaixo o cartão-ponto!

A reflexãodo diretor sobre como a mulher pode conquistar mais espaço na sociedade tem um detalhe: ele não foca no batido tema do mercado de trabalho. Surge, então, a mulher que não está interessada apenas no sexo burocrático, que muitas vezes acaba imperando durante um relacionamento mais duradouro, estilo bater cartão-ponto e fim. Ela quer romance, quer experimentar, sentir novas sensações e às favas se o homem não quiser. Não quer, tem quem quer; ou ele se toca e entende que precisa mudar sua postura cômoda de `macho provedor do lar`, que deve ter suas necessidades satisfeitas, ou perde as rédeas da situação.

Telminha resolve ter uma relação mais intensa e quer isso com o próprio marido, para sorte dele. Ela quer atingir o êxtase sexual e investe nas regras da confraria comandada por sua irmã Carla (Ita Ramires) para atingir seu objetivo. A partir desse impasse, se estabelece uma estranha triangulação, onde situações a princípio desconexas se sucedem até que a peça inicie um ritmo natural. A sugestão de troca de casais, de homossexualismo, revela a intenção do autor. “As personagens estão muito voltadas para os prazeres da cama”, conta Delgado. A indicação é de que a partir de uma dominação, do controle da energia sexual pela mulher para envolver o homem, seu objetivo será atingido e ocorrerá algo novo. Se isso encaminhará esse homem para algum lugar que não seja o lugar de sempre, não se sabe.

Quando a terra vira areia movediça

“Às favas com os homens” mostra que a mulher quer coisas simples como ter prazer, mas do jeito dela. A dominação pode soar como algo ruim para ele, pois não é a forma de prazer que conhece. Elas não querem o sexo fácil, querem sentir o homem mais próximo à relação, pois precisam sentir outra energia: a energia do envolvimento e da entrega total. O kama sutra mostra que sexo está associado à mente ao corpo, talvez, por isso, seja Raul (Luís Carlos Pretto), amigo de Edgar, o mais disposto a acompanhar as invenções da confraria das irmãs. Ele está aberto a essas novas sensações; mesmo que não entenda o por quê de ter de fazer o que Carla manda, ele faz.

Neste sentido, a mulher vai agir como o homem que sempre buscou sua satisfação sexual. “Os conflitos são propostos pelas mulheres e eles tentam se arranjar de alguma forma dentro daquilo. Tu tinhas um chão firme onde pisava, e o chão deles fica muito frágil, onde não sabem como agir”, explica Pedro Delgado.

O texto, escrito em 2007, esteve na fila de espera do diretor até chegar aos palcos. A atuação do grupo é parelha e o destaque é o cenário, onde janelas e portas, são representadas por gavetas, dando a impressão de um local de onde a luz vem e impera sobre a escuridão, talvez também em uma referência a yin e yang. O figurino, trabalhado em preto e vermelho, reflete a sexualidade que está à flor da pele, mas precisa ser controlada pelas personagens, bem a sua maneira e, se não gostar do que viu, às favas, vai ter quem goste.


A decoração da casa de Telminha mostra também as posições do kama sutra. Foto: Isabel Bonorino.


Serviço:

O quê: Às favas com os homens que as mulheres vãoàluta
Quando: até 13 de setembro
Onde: teatro Hebraica, rua Gen. João Telles, 508
Hora: 21 horas (sábados) e 20 horas (domingos)
Ingressos: R$ 20,00 – c/ 25% de desconto para Sócio e um acompanhante do Clube ZH. Terceira idade tem 50% de desconto


07/09/2009

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Comentários:

Isabel sua critica realmente me faz pensar no papel do critico no Brasil e no mundo. Sua CRITICA é enbasada em sua opinião e na visão do autor.Um crítico jamais deve, por melhor relação que tenha, dar o parecer e as ideias do autor. Há não ser é claro se o critico não é um critico mas um entrevistador, reporter, jornalista... Fico feliz em saber que sua percepção do espetáculo foi muito coerente com a proposta do Diretor e com toda a pesquisa e estudo que Pedro Delgado faz em seus trabalhos. É uma pena que seu entendimento não tenha sido tão perceptivel com o trabalho do nosso grupo de atores... "Talvez a peça e a reflexão seriam mais óbvias para o público se o elenco fosse formado por atores já consagrados, pois a obra de Delgado é exatamente naquele estilo intelectualizado que faz sucesso por aí: “Vi, não entendi algumas partes (ou o final), mas aquelas sacadas da Fernanda Torres foram muito boas. Gostei”. Nós atores gaúchos ainda não somos consagrados por não ter uma mídia televisiva. E de antemão informo que a palavra consagração não tem a menor relação com qualidade técnica e talento dos atores. É uma pena que vc como gaúcha não incentive nós atores "gaúchos" a ser "consagrados". E esse é um dos milhoes de motivos que nosso publico e mercado gaucho teatral deixa a dejesar. Cordialmente Daniela Lima
Daniela Lima, Porto Alegre/RS 09/09/2009 - 15:42
Isabel, você é sempre surpreendente com sua sensibilidade e sua interpretação refinada dos signos que são colocados na cena. Me sinto muito feliz em ler o seu texto e me enxergar, bem como enxergar o meu trabalho refletido na luz do seu olhar.
Pedro Delgado, Porto Alegre 08/09/2009 - 00:02

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  Isabel Bonorino

Isabel Bonorino é jornalista, radialista e relações públicas. Musicista, dedicou-se ao canto lírico de 1995 a 2005, atuando como soprano nos corais da Ospa e PUC. Foi colaboradora da Revista Literária Blau e produtora/apresentadora na Rádio da Universidade, onde criou o programa "UFRGS em Canto". Atualmente é produtora e repórter da TV Assembléia.

isabel@artistasgauchos.com.br
twitter.com/ISAbonorino


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