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Artes Visuais

A construção de um preconceito e a arte de Rodrigo Braga
Bruno Dorneles da Silva

                Uma das problemáticas da arte contemporânea se faz ver, de forma evidente, quando observamos um espectador comum diante de artistas como Rodrigo Braga. Antes de começarmos uma análise pouco mais minuciosa sobre o assunto, deixo a disposição de vocês, leitores, alguns exemplos de obras deste artista:

                Diante de tais imagens, Paulo Trevisan* elabora um conceito sobre a obra cuja palavra chave seria “desconforto”. Para ele, as obras de Rodrigo Braga causam no espectador um incômodo inicial por conter “uma verdade que nos agride” mas que “também nos atrai pelo magnetismo que temos por aquilo que negamos”. Tendo como axioma a ideia de que somos todos viciados em imagens e, como dependentes, não apenas não acreditamos no nosso vício como também julgamo-lo construtivo e necessário, lidamos com as obras de artistas como Rodrigo Braga de uma forma superficial, do ponto de vista prático/estético: tudo é real. Para quem observa trabalhos seus, em especial “Fantasia de Compensação” (2004), “Risco de Desassossego” (2004) e “Sem Título” (2005), as imagens parecem fazer parte de um universo onde não existem manipulações digitais e tudo que nos dispormos a ver não passa de autoflagelação ou atos bárbaros de crueldade. E então perdemos a mágica que se revela ao olharmos as etiquetas de identificação das obras:

“MANIPULAÇÃO EM IMAGEM DIGITAL”

                Mas a problemática toda não envolve o trabalho de Rodrigo Braga ou algum outro artista que causa polêmica por onde passa. A problemática da arte contemporânea proposta neste texto está no mesmo lugar que a essência do belo ou do ridículo: nos olhos de quem vê. Não faz parte dos objetivos do texto, se ele se mostrar objetivado, criticar o público ou colocar em suas costas o peso do que é bom e aceitável ou ruim e implausível. Porém, deixar o público a par das consequências de seus atos não é apenas um ideal admirável, como recomendável. Assumindo sua posição de consumidor, o espectador tem o direito e dever de estabelecer com os “produtos” a sua disposição uma relação de qualificação e crítica. O fórum público é, em muitas propostas artísticas contemporâneas, não apenas o destino final do trabalho de um artista, e sim a arte prática, por assim dizer. Quando nos deparamos com uma obra como a de Rodrigo Braga, nos é proposto meios diversos de interação. Podemos, por exemplo, angariarmos odes de horror e excluir qualquer tentativa de aproximação do artista, ou podemos levar essa experiência até o fim e passar por todas as etapas propostas pelo mesmo: o começo e o desconforto, o confronto com este incômodo e a revelação. Retirando do público a angústia e deixando nele a mensagem clara de que somos todos bitolados ao olhar, assim como damos às imagens um valor superior ao seu natural e verdadeiro, que deixa margens a dúvidas e confrontos de realidades.

 A pretensão de apontar o nascimento de um preconceito tem seu valor quando nos propomos a acabar com o mesmo. Para que possamos então fruir de todas as sensações que uma obra de arte é capaz de nos despertar, precisamos abrir mão da habitual realização de pré-julgamentos, baseados em experiências vividas das quais acreditamos carregar qualquer material que nos possibilita estudar um trabalho artístico IDealizado e Realizado de maneiras parcial ou totalmente diferentes. Basicamente, devemos nos propor virgens diante de uma nova experiência estética. Abandonando qualquer tipo de conhecimento, prático ou teórico, sobre materiais, formas ou produtos. Conhecimentos que serão usados após a experiência, de forma a moldá-la dentro do gosto, ou desgosto, de cada um dos espectadores. Somente assim pode-se criar, por fim, um público que julga o que vê de forma consciente e racionalmente correta, que não dá margens à ignorância mesmo quando ela se mostra confortável.

  

Para finalizar. Se torna evidente no trabalho de Rodrigo Braga, nestes expostos no texto, uma forte crítica a essa problemática. Suas fotografias acabam servindo como prova de que este obstáculo existe e deve ser superado. Para que se criem, em todos veículos e meios possíveis, consumidores de arte contemporânea que não se reduzam à estudantes de artes ou profissionais do meio. Para que enfim, e tão somente enfim, a arte invada de vez a vida das pessoas e possa nelas transformar o que for capaz de transformar. Por que existem poucas coisas piores que a estagnação e teimosia intelectual, construtora de uma série de preconceitos que encarceram o ser-humano em seu círculo vicioso de falsas certezas.

            


    *- Professor e pesquisador de História da Arte. Ministra aulas de História da Arte, Estética, Arte Contemporânea e Arte Brasileira na Faculdade Paulista de Artes (FPA) e na Universidade Camilo Castelo Branco (UniCastelo), ambas em São Paulo - Capital. Educador no Museu de Arte de São Paulo. Bacharel em História e Mestre pela ECA (pesquisa sobre a Arte Brasileira Contemporânea), ambos pela USP. Desde 1997, dedica-se à pesquisa sobre a Arte Brasileira (principalmente a realizada nos últimos anos) e ao estudo da História da Arte.


Bibliografia

http://paulotrevisan.blogspot.com/2007/02/rodrigo-braga-o-impacto-da-imagem-e.html

http://www.pristina.org/2008/06/23/vamos-esquartejar-o-rodrigo-braga/

http://www.rodrigobraga.com.br/


12/03/2011

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Comentários:

Surrealmente muito bom, nós criadores contemporâneos sofremos por antecipação a crítica pela crítica de quem pouco acrescenta no fazer ou admirar artístico. www.artwanted.com/wmmdesigner
Waldemar Max, Gravataí/RS 27/03/2011 - 15:28
Oi Bruno, Puxa como é bom ter alguem que escreva bem sobre nosso trabalho! As palavras me fizeram entrar e costurar e sair do trabalho de Rodrigo Braga.
francisca alves da silva, Pelotas RS 23/03/2011 - 18:22
Parabéns Bruno, seu texto revela o artigo de um grande profissional.
Raphael Zaratustro, Brasília/DF 15/03/2011 - 22:04

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