Literatura
Vale a pena participar de Bienais do Livro?
Marcelo Spalding
Mais uma Bienal do Livro se encerrou, desta vez a de São Paulo, e sempre fica aquela pergunta: vale a pena se organizar para visitar a próxima?
Em Bienais, seja na do Rio ou na de São Paulo, tudo é superlativo. O espaço é muito grande, tem muita gente, os estandes competem em qual o maior ou mais imponente. Então para quem gosta de muvuca, badalação e especialmente livros de entretenimento, vale muito a pena se organizar para ir a uma Bienal, mesmo precisando viajar para isso. A dica, neste caso, é pegar um hotel próximo ao evento, pois ambas são longe.
Já se você é um leitor mais clássico, raiz, valoriza o livro pelo livro e pode se irritar ao ver bonequinhos, jogos de tabuleiro, cards e estandes nada a ver com literatura como da Baggagio e da Faber Castell, só vale a pena ir se você morar na cidade e conseguir ir em dia de semana. Vale até para refletir sobre os rumos do mercado editorial. Afinal, como sempre digo, livro é literatura são coisas diferentes.
E agora a pergunta mais importante: vale a pena para autores iniciantes que querem divulgar seu trabalho? Resposta rápida: não. Resposta ponderada: depende.
Não vale a pena se você acha que vai vender muito livro, ficar conhecido, ser descoberto por uma grande editora. Acontece tanta coisa ao mesmo tempo na Bienal, são tantos livros, autores e sessões que você vai se sentir uma gotinha no oceano. Melhor seria investir este mesmo tempo, dinheiro e energia em eventos da sua cidade - até criar um, caso não exista -, posts patrocinados nas redes, divulgação direta do seu trabalho em escolas, etc.
Digo isso porque hoje tem muitas editoras ou outros serviços que cobram do autor para participar desse tipo de evento, às vezes prometendo uma projeção irreal. Assim como editoras hoje ganham dinheiro fazendo livros e não vendendo livros, esses espaços na Bienal ganham dinheiro dos autores que pagam para estar lá, não vendendo os livros em si. E se o autor ainda precisar gastar com hotel e passagem, fica inviável.
Mas então porque o depende? Claro que um evento dessa magnitude pode ajudar você a fazer contatos, ter ideias, se sentir parte de uma enorme comunidade de autores. Para quem se organizar e tiver paciência para passar os dias na Bienal, há inúmeros bate-papos e palestras. Sem contar que essa experiência vai render muitas fotos pras redes sociais e muito conhecimento acumulado sobre o mercado do livro e o comportamento do público.
Eu, particularmente, fico tonto em eventos como a Bienal. É muita informação, muito frenesi, muita fumaça ao redor do livro e pouco aprofundamento, pouco trabalho para qualificar a produção nacional, para ampliar a bibliodiversidade. Os milhares de estudante que passam por lá gastam em gibis, livros brinquedo, liquidações. Tenho dúvidas o quanto isso ajuda a formar leitores. E como tem muito dinheiro público envolvido, fico com mais interrogações ainda.
Mas uma coisa é inegável: eventos como a Bienal do Livro, sem vergonha de serem comerciais e muito competentes na organização e divulgação, ajudam o mercado do livro como um todo, mantêm a mÃstica do livro impresso viva e ajudam a criar uma cultura em torno do livro que faz bem para o mercado editorial.
18/09/2024
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Marcelo Spalding
Marcelo Spalding é professor, escritor com 8 livros individuais, editor de mais de 80 livros e jornalista. É pós-doutor em Escrita Criativa pela PUCRS, doutor em Literatura Comparada pela UFRGS, mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS e formado em Jornalismo e Letras.
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