O presente artigo tratará de um tema pouco divulgado na literatura e nas artes plásticas no Brasil, nos séculos passados, e a presença dos negros na produção artística.
A literatura historiográfica possui uma ampla pesquisa sobre a situação do negro, durante este período, a questão da escravidão e a exclusão social, mesmo após a oficialização da abolição da escravatura. As artes plásticas eram uma prática muita elitizada, no entanto é interessante o surgimento de alguns artistas negros que deixaram uma obra de qualidade e até com certo pioneirismo quanto à exploração de temas e recursos.
Comentaremos brevemente o trabalho de alguns destes artistas, discutindo a trajetória e o perfil de suas obras
Jesuíno Francisco de Paula Gusmão (1764 – 1819) Nascido em São Paulo era conhecido como Frei Jesuíno do Monte Carmelo. “Ecce Homo” foi a obra que o projetou nas artes plástica. A maior parte do seu trabalho foi murais para igrejas, reformas na arquitetura dos prédios destruíram a maioria. Um dos poucos murais restantes está na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Itu.
Emmanuel Zamor (1840-1917) | Baiano, foi adotado pelos franceses Pierre Emmanuel Zamor e Rose Neveu, na paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Aprendeu música e desenho na Europa, por volta de 1845. Freqüentou a Academie Julian, em Paris, anos antes de Tarsila do Amaral. De acordo com a documentação da época é possível que ele tenha convivido com Cézanne, Renoir, Degas, Pisarro, Monet e Sisley. Um incêndio destruiu seu acervo quase por completo.
Estevão Silva (1845-1891) | Nasceu no Rio de Janeiro, foi o primeiro pintor negro formado pela Academia Imperial de Belas Artes, teve como companheiros Almeida Junior, Rodolfo Amoedo, Firmino Monteiro. Estevão Silva é referência no pioneirismo das naturezas mortas, buscava representar a natureza ao ar livre e não mais dentro do ateliê.
Horacio Hora (1853 – 1890) | Nasceu no Sergipe, subsidiado pelo governo imperial viajou para a Europa, tornou-se um frequentador do Louvre. Ganhou vários prêmios, tornou-se especialista em retratos, a tela Pery e Cecy, inspirada na literatura de José de Alencar, é considerada sua obra prima.
Firmino Monteiro (1855 – 1888) | Nasceu no Rio de Janeiro Menino pobre, cedo teve de trabalhar como caixeiro, encadernador e tipógrafo. Devido a isso demorou para iniciar os estudos nas artes plásticas. Cursou a Academia Imperial de Belas Artes, onde foi aluno de Victor Meireles, e foi incentivado, por meio de uma viagem à Europa, patrocinada por D. Pedro II. Viveu mais no exterior do que no Brasil e teve as suas paisagens chamaram atenção. Recebeu contínuos elogios do crítico Gonzaga Duque. Na 26ª Exposição Geral de Belas Artes, em 1884, expõe 18 paisagens e cinco quadros históricos, pelos quais recebe o título de Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa, conferido pelo imperador.
Rafael Pinto Bandeira (1863 – 1896) | Nascido no Rio de Janeiro começou a academia imperial de Belas artes com 16 anos. Permaneceu vários anos em salvador trabalhando como professor de desenho e paisagismo. É considerado uma referencia na pintura de paisagens e marinhas feitas, no Brasil, durante o século XIX.
João Timótheo da Costa (1879 - 1932) | Nasceu no Rio de Janeiro, foi pintor, decorador, gravador. Começou os seus estudos na Casa da Moeda do Rio de Janeiro em 1894. La conheceu o diretor Enes de Souza, que se tornou seu protetor. No mesmo período estudou desenho e pintura na Escola Nacional de Belas Artes. Trabalhou, junto com o seu irmão, Arthur Timótheo da Costa, na decoração do pavilhão brasileiro na cidade de Turim (Itália), por ocasião da Exposição internacional de 1911. Também junto com Arthur executou, o primeiro de uma série de painéis decorativos para o Fluminense Futebol Clube, trabalho que terminou sozinho em 1924. Em 1925 executou cinco painéis para a ornamentação do Salão Nobre da Câmara dos Deputados, atual Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Participou de diversas edições do Salão Nacional de Belas Artes, em 1926 é homenageado com a pequena medalha de ouro.
Arthur Thimóteo da Costa (1882 – 1922) | Estudou na Casa da Moeda e na Escola Nacional de Belas Artes. Ainda muito jovem trabalhou com o cenógrafo italiano Oreste Colliva, esta experiência parece ter influenciado sua técnica, no destaque do jogo de luzes e composição. Em 1906 com a obra, “Antes da Aleluia”, ganhou o premio que o levou a Europa onde percorreu a Itália e a Espanha. Retornou a Europa em 1911 integrando a equipe de pintores que trabalharam na decoração do pavilhão do Brasil na exposição de Turim. A sua procura por uma expressão o levou a contrariar o modelo acadêmico, da época, o que atraiu criticas do meio artístico. O MARGS (Museu de Artes do Rio Grande do Sul) possui a obra deste artista intitulada “A Dama de Branco”.
Benedito José Tobias (1894 – 1963) | A sua obra é pouco pesquisada. Os trabalhos mais conhecidos, deste artista, são pequenos retratos de negros e negras, realizados a óleo sobre madeira ou a guache sobre papel. Emanoel Araujo usou a expressão “maestria expressionista” para definir a obra de Benedito José Tobias.
A vida de cada um destes artistas foi de grandes dificuldades, que exigiu tenacidade e força de vontade, em alguns casos com final trágico, como o caso dos irmãos Arthur Thimóteo da Costa e João Timótheo da Costa que terminaram a sua vida internados num hospício no Rio de Janeiro.
10/12/2010
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Comentários:
Após concluir leitura desse post, iniciarei um estudo mais apurado sobre cada um dos artistas destacados como pouco mencionados na história da arte brasileira.
Cabe a nós pesquisadores interessados a mudar esse deprimente quadro. Pois enquanto não apostarmos na maioria nossa Nação continuará adormecida , ignorando seus próprios valores . Cátia Francisco, Rio de Janeiro08/05/2017 - 16:36
Estou estudando Especialização em PolÃtica de Promoção da Igualdade Racial nas Escolas, e vou fazer minha pesquisa baseada na vida e obras de Estevão da Silva,gostaria se possÃvel que me informasse se tem algum livro sobre esse grande artista. Maria Luiza R Freitas, Serra08/03/2015 - 22:46
eu adorei saber das obras destes grandes artistas negros . nos negros temos o don de fazer tudo perfeito podemos as vezes ate demorar para sermos reconhecidos, mas oque importa e isso adiferença, continua.... luisa margarete martins lopes, canoas io grande do sul18/10/2012 - 12:25
Fico feliz e, ao mesmo tempo, triste em saber o quanto temos de artistas tão importantes e tão valorizados e, se quer, citados, nas aulas de hist. da arte brasileira..Deveriam criar uma cadeira de hist. da arte brasileira em que estudássemos os nossos artistas e aprendermos muito com eles. Assim, não correrÃamos o risco de continuarmos sendo um paÃs que pouco valoriza os seus próprios conterrâneos, filhos da terra, que ajudaram e ajudam a criar memórias para o seu povo.
Mas, continuo acreditando no povo brasileiro.
Aguardo cheia de expetativas mais informações e comentários dos personagens citados no post.
Abraços,
Lenir. Lenir Maria, Nova Ifuaçu/RJ08/01/2011 - 18:30
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