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Música

Zé Caradípia: o homem da Asa Morena
Marcelo Spalding

Zé Caradípia tem seu trabalho como compositor reconhecido nacionalmente através da cantora Zizi Possi, que interpretou Asa Morena, considerada como uma das 100 músicas mais populares do século XX no Brasil. Nesta entrevista conta como começou sua carreira e a parceria com Zizi.

Como surgiu a paixão pela música? Foste primeiro compositor ou músico?
O berço familiar trouxe consigo uma influencia forte demais para que eu a ignorasse. Tanto meu pai quanto minha mãe vinham de familias bastante musicais, sendo ambos afinados cantores. Meu pai desde garoto dedilhava o violão na sua Santo Antonio natal, participando ativamente dos Ternos de Reis, animando bailes e afins. O familiares de minha mãe também. Antes do músico dito pronto e em circulação, ecos de um futuro compositor punham-se à mostra em saraus familiares, na escola, onde levava o violão para entoar cançoes da época, e até num primeiro festival de música popular acontecido num antigo seminário viamonense.

De que forma artistas como Zizi Posso chegaram a suas músicas?
Corria "o ano da graça"de 1980, quando fui convidado pelo produtor musical carioca Armando Pittigliani, que se encontrava em Torres como um dos jurados do 1º Festival da Guarita da Canção, para uma ida ao Rio de Janeiro onde deveria ser contratado da gravadora Phillips Phonogramm, dona dos selos Polygram e Polydor e de um imenso rol de artistas de peso, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, MPB4, entre inúmeros outros. O dito festival já havia acabado quando eu dei uma canja numa churrascaria sem saber que vários produtores das gravadoras RGE, Continental, Copacabana e Phillips estavam presentes, sendo maravilhosamente surprendido com o convite do Armando: Sou fulano de tal e quero te contratar! Isto aconteceu no mes de agosto. Compus Asa Morena no mes de setembro de 1980, e, em novembro quando fui ao Rio, uma fita com várias músicas minhas já havia sido enviada ao Armando Pittigliani, sendo a primeira delas Asa Morena, canção que amigos meus como o Leonardo( o ganhador da Guarita da canção) acharam divina, etc. O produtor da Zizi, Joaõ Augusto, dono da Deckdisc, gostou da música e perguntou-me se não ficaria interessante com ela? Daí...

Um amigo, Sergio Napp, brinca, sobre Desgarrados, que o problema de compor um grande sucesso no começo da carreira é a dificuldade de se fazer reconhecer pelas obras posteriores. Isso aconteceu com o senhor?
Olha, aqui no Estado, pelo menos, uma outra canção minha, Diamante, em parceria com o poeta Sérgio Luiz de A. Silva galgou alguns degraus do sucesso "aquele" almejado por tantos quantos fazem da música profissão, que é tocar no rádio, vender discos, ser cantada por todos, entoada pelos músicos dos barzinhos, etc. Esta música está presente no long play Música Popopular Gaúcha, MPG, gravado em 1985 pelo produtor Airton dos Anjos, sendo que até hoje as pessoas me pedem pra cantar e/ou enviar por e-mail pra algum lugar distante feito Portugal, ilhas bermudas, USA, pela gauchada saudosa da canção que ouviam à época em Santa Maria, Porto Alegre, Passo Fundo e por aí vai. Claro que o grande sucesso de Asa Morena que vendeu alguns milhares de discos e até hoje ainda é cantada por "karaokistas da hora" ainda não foi suficientemente suplantado por mim, quer seja por inépcia ou outro fator qualquer. Acho até algo disparatado falar assim de uma canção feita sem maiores quereres que não o de fazer uma canção que pulou no meu colo e me chamou de papai há 28 anos atrás. Que deus salve a rainha e a Asa Morena, mas estou noutras. Sucesso é você gostar do que faz, mesmo estando longe do que hoje em dia dizem ser sucesso. O amor à música feita com alma, supera em muito o status quo reincidente de alguns espertos.

Esse seu trabalho como compositor é nacionalmente reconhecido há anos, mas apenas em 1995 gravaste seu primeiro CD. Por quê?
Por não ter ficado no Rio, talvez. Por não ter desistido de algumas opiniões bastante particulares, também. Poderia ter gravado meu primeiro disco em 1983 aqui mesmo em Porto Alegre, mas, à época agendada para as gravações em estúdio ,meu produtor estava no Rio, e eu em pleno mês de julho encontrava-me gripado pacas, e, sem quem me auxiliasse na empreitada, acabei desistindo da idéia. Uma pena. Nunca gravei, e acho que jamais vou gravar algumas das canções seminais da minha carreira. Fazer o que? Daí, 1995, doze longos anos de espera, mas acho que acabou valendo a pena.

Depois da gravação do primeiro CD, outros tantos se seguiram. Como tem sido essa carreira de músico, estando em cima do palco?
É. Depois do primeiro CD intitulado Onda Forte, vieram Retina da Alma, num clima jazzistico, gravação ao vivo no Renascença em julho(!!) de 2000 com uns músicos maravilhosos que faziam parte da minha banda à época: Dinho Oliveira, violão e guitarra; Texo Cabral, flauta e Harmônica; Jacaré no baixo, mais o Andrézinho na bateria. Pintando Falas(prêmio açorianos de música 2003) foi gravado no estúdio Focus do querido amigo Marcos Ungaretii, num clima de bastante simplicidade e camaradagem como sempre, com a participação dos músicos: Chicão Dornelles, nas percussões; Itajubá do Prado leite, baixo e baixo freetlass; Cláudio Sander, sax tenor e flauta; O DJ Duque Djay, matando à pau, mas na maior tranquilidade, e o Beto Bollo que é um misto de compositor, produtor, arranjador e artista plático tudo junto e incluído no pacote, além de um grande e antigo amigo que muito ajudou na tarefa de "acoeração" da coisa artística na causa em questão. Minha amiga Lomma deu uma bela palha na canção bluesy Tudo Ali; Minha fiuha Elisa cantou na "entrada" de No riso das crianças. Ficou lindo. Quanto a estar nos palcos, não tem sido tão constante como gostaria, porém, as coisas mudam e trabalhar sempre faz bem.Agora, então que estou para lançar um novo trabalho(meu primeiro dvd Armadilha Zen) mais anseio por novas oportunidades de estar no palco fazendo a função que mais gosto que é cantar e tocar meu violão.

Como avalias o atual momento da música gaúcha?
Rapaz, avaliar a atualidade da música gaúcha! Não acho que eu seja o cara mais indicado para tal, porém, também acredito no potencial latente de tantos quantos estejam por aí a carregar na alma o bacilo infeccioso de suas fortes emoções cancioníferas, e, então que viva a Pata de Elefante, o samba de rai do meu amigo Paulo Sitó;o Luciano Maia, Segalla, O Luizinho Santos e a Bethy Krieger, a Marisa Rothemberg, Marcelo Delacroix, Familia Sarará, ArThur de Faria, e a banda Municipal com aquele monte de músicos bons literalmente dando banda.O Nelson, o Gelson, o Mário Falcão, O Bebeto tá no Rio e o Antonio idem...Entre tantos outros,
Mário Falcão.

Uma música.
A de todos, unidas numa única e grandiosa sinfonia ainda por acabar, ou não!?


27/02/2009

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Comentários:

Por que será que o nome de Zé Caradípia é tão pouco divulgado? Por que não divulgar esse tão competente músico e poeta em nossas escolas e criar uma juventude realmente valiosa?
Ademir Fernandes, São Paulo/sp 30/08/2011 - 13:30

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