Neste mês assistimos a festa de aniversário do Centro Municipal de
Cultura Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues, onde estavam muitas e muitas
pessoas. Tentei encontrar alguns colegas de anos atrás, mas não
vi ninguém daquele tempo. Compareceram muitas autoridades, entre elas o
prefeito Fogaça. Houve alguns discursos, bem coloquiais, interessantes,
rápidos, o que facilitou para quem dava ouvidos.
Tive a graça de ser aluna de artes plásticas do Atelier Livre.
Naquela época para ingressar no Atelier tinha que fazer uma prova escrita.
As perguntas quando eu fiz esta prova eram bem incisivas, procurava se captar
com elas o interesse da pessoa em estudar arte mesmo. Muitas pessoas se inscreviam,
quando fiz tinha 600 e poucos inscritos.
Em 1986, certo amigo, que foi quem me levou, digamos assim, a fazer o teste,
desenhou uma faca, uma cebola descascada em cima de uma tábua de carne.
Estava perfeita, vi quando levantei para sair. Mas ele não passou e ficou
bastante frustrado.
Eu fiz apenas uma rosa, bem simples, com poucos traços. E logo comecei
a aventura de entrar na oficina inicial do Atelier Livre de Porto Alegre.
No primeiro ano era obrigatório fazer de tudo um pouco: desenho, cerâmica,
pintura, xilogravura, etc. No fim dos dois semestres se escolhia que oficina
cursar no ano seguinte. Havia pessoas importantes naquela época no Atelier.
Seguido a gente via Iberê Camargo tomando cafezinho no bar, falava com
todos. Outro, que vinha bem seguido, era Clébio Sória. Ele tinha
uma mania de falar “pois pois” em todas as frases. Era bem humorado
e gentil. Para quem não sabe quem é, explico: ele que pintou aqueles
gaúchos lindos perto do mercado público.
Certa vez ele me pediu para trocar um trabalho comigo. Fiquei muito feliz e
surpresa, já que eu estava iniciando e ele era já famoso. Claro
que aceitei e ele me deu uma gravura linda com dois homens e uma menina a cavalo,
com direito à dedicatória no canto.
Que época feliz de minha vida! A Livraria Ilhota naquela época
aceitava trabalhos de alunos para vender. Coloquei uma pintura sobre papel,
com motivo de flores, dessas que crescem na água, e vendi bem rapidinho.
Foi uma emoção saber que alguém valorizou tanto meu trabalho
a ponto de ficar com ele! Isso, foi um incentivo grande, então pintei
uma tela. Ela era cheia de máscaras, umas tristes, outras sorrindo, bem
coloridas. O título foi “Brasil”. Qual minha surpresa, na
semana seguinte ela também foi vendida para uma senhora que trabalhava
na biblioteca.
Fiz bons amigos no Atelier. Alguns vejo até hoje. O mais ilustre é
o professor de litogravura Danúbio Gonçalves. Que aulas boas eram
nesta oficina. Todos bem concentrados desenhando naquelas pedras brancas, pesadas,
lindas. Saíam trabalhos maravilhosos, e o Danúbio ali acompanhando
sem interferir na criação. Tinha o senhor da prensa, Nelcindo
e o filho dele, muito educado. Um clima harmônico, legal da gente produzir.
Bem, a gente não pode ficar para sempre no Atelier, tem que dar lugar
para outras pessoas. Mas até hoje passar ali dá uma sensação
agradável.
Só quero dizer que fui à festa dos trinta anos do Atelier, isso
foi muito bom. Tomei uma taça de champanhe bem gelada e brindei com minha
filha a alegria que é saber que o Atelier ainda existe e está
cumprindo seu papel de adubar os talentos. Espero que para sempre ele continue
sendo Livre e que cada artista consiga expressar a arte de forma completamente
pessoal, sem ter uma “fôrma da moda” para cumprir. Porque
o melhor do Atelier era ele fazer jus a esse nome e isso não pode se
perder. Obrigada a todas as pessoas que fazem isso ser possível. As pessoas
de hoje e de ontem. Muito obrigada.
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