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Acessibilidade na leitura 1: a arte de escrever simples sobre temas complexos
Oscar Bessi


A Editora Companhia das Letras promoveu, na noite deste último dia 30 de agosto, um debate entre os escritores Robert Darnton (foto, EUA) e Alberto Manguel (ARG), mediados por Sergio Rodrigues (BRA). O evento foi no SESC Mariana, em São Paulo. Afora a dispensável biobibliografia de ambos, autoridades mundiais nos temas livros e bilbliotecas, um passeio divertido e pertinente sobre temas históricos, como o papel dos censores ao longo da história do livro. Eu e Bruno iríamos outra vez à Bienal Internacional do Livro, no Parque do Anheimbi. Assim que soubemos do evento – gratuito! -, desistimos do festival de estandes gigantescos e adolescentes histéricos por youtubers, com mos mesmos livros empilhados de qualquer livraria de shopping por aí, e optamos, na hora, pelo SESC. Afinal, não se sabe quando esses caras voltarão ao Brasil.

Professor, historiador e especialista em História da França, atual diretor da Biblioteca de Harvard, Darnton é uma simpatia. E um sujeito cheio de histórias. Assumiu o desafio de digitalizar e disponibilizar gratuitamente todo o acervo da maior biblioteca universitária privada do mundo. Já são 11 milhões de títulos disponíveis. E explicou, com muita sensibilidade e ternura, a lenda de ter escrito seu primeiro artigo aos 4 anos de idade: quando seu pai (de quem não lembra), repórter do New York Times, morreu na cobertura da II Guerra Mundial, um colega dele achou que ficaria bonito relatar o depoimento do filho órfão – e publicou um artigo que saiu com seu nome. “Na verdade não escrevi, eu nem sabia escrever, não sou nenhum gênio ou fenômeno”, diz o genial autor de, entre outros, A questão dos livros e o fantástico Censores em Ação, lançado este ano pela Cia das Letras.

E é nesta simplicidade que encontrei a grande aula que todos aqueles que produzem textos literários deveriam ter, ao pensar em seus escritos. E que debatíamos numa padaria paulistana durante o almoço, eu e Bruno, entre chopes e uns virados deliciosos. Quando Sergio Rodrigues perguntou, a ambos, que dom era este de escrever de forma tão simples sobre temas tão difíceis, tornando a leitura de seus livros universal e acessível, Darton sentenciou: “É preciso escrever simples sobre temas complexos, esta é a ferramenta mais preciosa que um escritor pode usar”. Perfeito!

Darnton credita, como muitos bons escritores que conhecemos - e que fazem sucesso junto ao grande público -, sua facilidade de "escrever fácil" ao jornalismo. E contou seu início como repórter policial de um pequeno jornal do interior, passando depois pela editoria de polícia do NYT e, mais tarde, para a de política. Assim, mesmo com o mergulho na complexa ciência da História e seus aprofundamentos, não perdeu a "mania" de escrever para todo os tipos de leitores.

A humanidade, imersa numa cultura perigosa de superficialidades e ausência de questionamentos – não se pergunta se a notícia, a imagem ou o dito na rede social é possível ou verdadeiro, não se pergunta sobre os outros lados de questões antes de tomar partido, pesca e joga informações no Google sem necessidade de absorção daquele conhecimento – precisa do debate de temas complexos. Mas precisa alcança-los. Entendê-los. O conhecimento é um direito humano, talvez seja criminoso se valer de um academicismo exibicionista, ou de outros recursos de pouca compreensão popular que inibem a leitura, ou até mesmo de sectarismos, fanatismos ou partidarismos que ocultam ou mascaram, no mínimo, metade das informações sobre determinadas realidades essenciais para estudo, debate e compreensão.

Escrever para que leitores de diversas formações, culturas, classes sociais e formações possam ler, é permitir, é promover acessibilidade num determinado fundamental conceito do termo: para o maior número possível de pessoas diferentes ter acesso. De nada adianta estabelecer um texto de ótimo respaldo científico, se sua leitura for incompreensível, ou restrita. Ler é se permitir tocar. Na alma. E, deste toque, estabelecer uma nova cadeia de transformações possíveis.

Enfim. Escrever é se eleger responsável por este gesto, esta mão estendida, este amparo. É se tornar responsável por passos alheios. Não seria justo empurrar de volta ou conduzir a um túnel ainda mais escuro.

 

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