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O não legado olímpico
Oscar Bessi


Charge "Olímpiadas Rio" - Arionauro da Silva Santos - www.arionaurocartuns.com.br

 

E se encerrarmos o última dia das Olímpiadas 2016 sem nenhum incidente grave, ela será anunciada como um sucesso absoluto, prova maior de que somos, sim, capazes e competentes. E o mundo agora sabe disso. Haverá uma euforia contagiante - mas que durará só até a próxima manchete da capa. Pois eis que nos tornamos assim, efêmeros, imediatos, pouco históricos e superficiais. Somos velozes, porque viver é veloz em dias tecnológicos. A memória tem a duração de uma postagem em rede social e nada além. Esquecemos ou nem vemos com uma facilidade absurda.

E mesmo que este não seja o comportamento de todos, há uma uniformidade na massa que assusta os que olham de fora. Os que param para pensar um pouco no que está acontecendo. Os que, feito eu, ainda estão ruminando as palavras "incentivadoras e empolgadas" do Presidente do Comitê Olímpico Internacional, festejado pela imprensa brasileira ao dizer que esta Olimpíada provou que é possível "lidar com as sociedades" e fazer um grande evento num desses países que não está no tpo do ranking do PIB. Ou seja, em outras palavras e caretas, num desses países aí, pobres, desorganizados e violentos.

Eu não gostei do que ele disse.

E também não me agrada o tal "legado olímpico".

Foi uma festa bacana? Sem sombra de dúvida. Foi emocionante ver os atletas brasileiros superando suas adversidades? Sempre é, há muitos anos, e é incrível como nada disso muda: entram e saem governos diversos que, em comum, têm a inércia ou incapacidade de ver os benefícios de uma nova ótica. Que jamais tornam o investimento no esporte uma política pública séria e abrangente. Um país continental e populoso que não consegue ter atletas medahistas em profusão é, acima de tudo, uma prova da incompetência pública de quem o conduziu neste tempo todo. Projetos sociais ainda salvam a pátria. Mas projeto social não é política pública - esta precisa ser alcançada por todos, em todos os cantos do país, sem distinção e sem precisar ter que contar com a sorte.

Qual foi o legado da Copa? Obras faraônicas injustificáveis. E obras públicas inacabadas ou mal feitas, apesar de milionárias. Nada de inclusão geral através do futebol, logo num país onde meninos e meninas adoram jogar bola e torcer pelo seu time, num país onde meninos e meninos estão há muito jogados nas ruas sem nada para fazer e sendo cooptados pelo crime, pelo tráfico, pelas violências diversas. Vulneráveis. Basta espiar alguns dados sérios, sem propaganda ou demagogia, basta sair por aí com os olhos abertos para ver a realidade como ela é, sem pensar apenas em cobrar cachê. Seguimos com o Brasil do crack, não dos craques. Seguem crescendo cidades onde os campinhos e espaços públicos para a garotada desaparecem. E a grana gasta na Copa dava para fazer muito, mas muito mesmo, pelos nossos. Nada se fez.

O que será o legado olímpico, então?

Pouco mais que nada. Nesses dias, patrocínios gigantescos garantiram espaços e notícias, a emoção e as vontades se uniram em torno de esportes que sequer sabíamos existir. Em seguida virão os jogos paraolímpicos e as notícias serão mil vezes menores, mesmo que os exemplos sejam mil vezes mais emocionantes e o desempenho brasileiro seja dezenas de vezes mais vitorioso, como jã foi no Pan. E em poucos dias ninguém falará mais nos esportes que estão fora das jogadas banhadas a ouro na mídia nacional. Virá o brasileirão das cervejas e umas migalhas esporádicas do resto. Os gestores públicos nem lembrarão mais do tema "inclusão" (não sei se a maioria deles chega a lembrar algum dia) e o Brasil seguirá sua triste sina que já dura cinco séculos.

Projetos sociais salvarão a pátria por muitas olimpíadas ainda. Seres humanos maravilhosos que acreditam também. O efêmero seguirá a engolir nossa densidade demodê. E uma imensa maré impiedosa seguirá nos engolindo, na contramão dos que entendem o esporte e a cultura como humanizações necessárias, como braços fortes da Educação que salvaria nosso futuro e mudaria destinos. Ou seja, na verdade, não haverá legado nenhum. Mas tomara que eu seja só mais um chato de plantão e esteja errado.

 

 

 

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