Fui ao cinema, numa daquelas oportunidades raras de assistir a um filme brasileiro na telona. O filme E aí, comeu?. Gostei. Marcos Palmeira pagando aquele mico com a patroa. Bruno Mazzeo sempre hilário. Emilio Orciollo Netto a compor a figura do canastrão abandonado. Tudo dentro dos conformes dos filmes brasileiros. Não, não estou falando mal do filme, pelo contrário, mais um produto de qualidade. Assista, vale a pena mesmo.
Aí eu resolvi dar uma vasculhada na internet para pesquisar sobre as pequenas editoras que faliram nos últimos anos. Achei de tudo, menos o assunto que eu queria. Achei muita gente malhando novos autores. Dizendo que lançar livro no Brasil é a maior furada. Isso para os novatos, que não têm nome conhecido no mercado (como se alguém nascesse com nome artístico feito). Que a internet veio para substituir através dos bilhões de blogs que rolam por aí.
Bem verdade que a internet é uma arma bem mais poderosa que a caneta (antiga pena, lembra?), que divulga mais do que outdoor de beira de estrada. Mas ali também se tem de garimpar. E como!
Fui lendo. Absorvendo. Enfurecendo com o canalha (é, eu disse canalha mesmo) que fez a bobagem de dizer para as crianças que Papai Noel não existe. Que coelho não põe ovo e, por conseguinte, não pode existir Coelho da Páscoa. Que gnomo, bruxa, mula sem cabeça, Saci Pererê, fada madrinha, Tinkerbell, Peter Pan e todos os seres da terra do faz de conta, inclusive o faz de conta, são invencionices de alguns malucos. Tchê, fiquei louco barbaridade.
Imagine agora: todo mundo resolve parar de lançar livro em papel. Tudo passa a ser via internet. A escola faz prova via web. O aluno nem precisa aprender a escrever, só digitar. Ele nem precisa mais ir à escola, a escola vem a ele. Os grandes clássicos são escaneados e distribuídos para bibliotecas e livrarias virtuais. Os sebos passam a vender somente livros virtuais. Os de papel são usados para acender o fogo do churrasco dominical. A pessoa não precisa mais sentir a textura grosseira de um papel. O ilustrador não precisa mais sentir o cheiro da tinta. Abolimos canetas, lápis, borrachas, giz de cera, tinta guache. Os pintores criarão seus quadros via computador. Nada de sujeira no estúdio, tinta no chão, cavaletes e aquela linda modelo posando nua. Isso agora é passado. Está tudo ali, na internet. Bem à mão, ou melhor, ao toque de um dedo. Um arrastar de um mouse.
Claro. Óbvio que as pequenas editoras estão falindo. Enquanto houver pessoas que acreditam que quando um escritor quer lançar um livro ele está buscando somente fama, dinheiro, convites para grandes e badaladas festas, as editoras irão falir.
Sei, você está pensando “como está equivocado esse nosso amigo. Não sabe nada das mazelas editoriais”. Sim. É verdade. Eu ainda acredito em Papai Noel e em gnomos. Os grandes editores acreditam em dinheiro. As pequenas editoras nascem cheias de ilusões, arrecadam algum com edições pagas e infinitas coletâneas, mas, via de regra, acabam abocanhadas pelas grandes ou apenas se cansam da batalha. Já vêm ao mundo natimortas, pois desprovidas de ideal.
O autor iniciante, aquele que tem amor às letras, às aventuras, aos sonhos, aos devaneios de menino que povoam seu mundo, busca no livro editado, mesmo que pago, a libertação das amarras que prendem seus escritos em uma gaveta. Ele busca o nascimento de um filho, ainda que este venha ao mundo mal escrito, com enredo duvidoso e sem métrica, e não a amargura de nunca ter tido a coragem de expor suas utopias pueris. Mesmo assim, mesmo que ele nunca passe das cercanias do meio familiar, ele regozijará, pois saberá que não foi um simples mortal. Mas um mortal com ideais.
Pequenas editoras morrem todos os dias, aos borbotões, por falta de verbas, por gastos impensados, por projetos mal feitos, pela pressão econômica, mas, principalmente, porque não acreditam na força de um sonho. Lembremo-nos que grandes árvores também caem.
Um artista que não crê em si é como uma flor sem perfume, uma vela apagada, um barco à deriva. Um homem sem ideais, que nunca acreditou em Papai Noel e duendes, é um ser desprovido de Deus, porque não consegue vê-lo, muito embora ele esteja por toda a parte.
Eu vejo as coisas como o Sr. Magorium, do filme A loja mágica de brinquedos. Sem seus sonhos e devaneios, a loja perde a magia, e tudo fica cinza. Eu sou assim (sem as sobrancelhas). Quer me conhecer, assista ao filme.
Ah, mas o que tem a ver o título do texto com o filme citado no início? Nada, eu só gostei do nome e usei a ideia, afinal, tudo está na internet, não é?
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