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Cultura Digital

O Off-Granta e a Realidade do Excesso
Maurem Kayna

Quem tem algum interesse por literatura, especialmente a contemporânea, com certeza acompanhou o alvoroço (misto de expectativas, polêmica e ausência de grandes surpresas) que envolveu o anúncio dos selecionados pela Revista Granta como os 20 melhores jovens escritores brasileiros. 

Após a divulgação do resultado, durante a FLIP, acompanhei diversas discussões na web (algumas acaloradas, outras desaforadas). De minha parte, prefiro simplesmente passar longe das críticas fundamentadas no fato de se tratarem (quase sem exceção) de autores com alguma "estrutura" por trás de seus textos concorrentes. O fato é que, independente dessa estrutura (principalmente a mídia) que os suporta, talento e/ou persistência (ainda que em diferentes medidas) todos possuem, e o fato deles terem conseguido espaço para mostrar seus trabalhos (para enviar textos para a seleção era obrigatório já ter material publicado, mesmo que em coletâneas) já traz em si alguma informação sobre seu possível potencial. Mas estou falando tudo isso como mero palpite porque não tenho bagagem para elaborar análises ou críticas literárias aprofundadas e sequer conheço a obra ou mesmo os textos enviados por todos (ainda não comprei a Granta). Conheço alguns dos listados e gostei do pouco que já li deles (mais delas, na verdade). 

Esse preâmbulo se fez necessário não para simplesmente avalizar o prêmio, mesmo porque minha opinião é inócua para tal, mas para esclarecer que eu não me sinto minimamente injustiçada com a não seleção (sim, fui atrevida o bastante para passar por cima de meu ilustre anonimato e enviar um conto). E isso não é discurso para parecer bacaninha, é apenas para demonstrar que tenho pefeita noção do caminho que ainda me resta trilhar. O caso é que depois de todas as polêmicas e discussões, um leitor (sim, foi um leitor, não um dos escritores preteridos) achou por bem utilizar-se das facilidades de acesso da web e criar um espaço para publicação dos textos "rejeitados". A iniciativa do Marcos Faria, batizada de Off Granta, é uma mostra dentre muitas outras, da abertura oferecida pela web para dar voz aos que não conseguem uma brecha no (tão mal falado) "mainstream". 

Mas todo o blá-blá-blá até aqui é apenas pretexto para apresentar uma ideia que me ronda com frequência: os efeitos desse excesso de conteúdo que podemos ofertar e acessar na web. Embora eu mesma tenha disponibilizado lá no blog Off Granta o texto que havia enviado para a seleção da Granta, é quase certo que o benefício real para os autores (em termos de visibilidade e leitura crítica de seus textos) seja muito próximo de zero (ok, admito que torço para que essa probabilidade óbvia seja contrariada). Pessimismo? Não, mera constatação. A cada segundo, uma nova enxurrada de posts, artigos, tweets e similares é despejada no fluxo de bytes da rede. A qualidade deste conteúdo varia entre extremos e diante disso, o que consegue ganhar efetivamente o autor estando inserido nesse mar indistinto de coisas incríveis e criativas entremeadas de mediocridade e superficialidade? Por mais questionável que sejam os critérios desta ou daquela editora ao selecionar aquilo que publico, sabe-se que houve ali algum esforço de triagem que, ao menos em tese, nos poupa o tempo de uma seleção cansativa e com o risco de nos depararmos mais com o joio que com bons grãos de trigo literário. 

Existe nisso sempre o risco de que material precioso não alcance o seu espaço, que poderia (e pode, de fato) ser garimpado de modo independente através das ferramentas da internet. Mas num ou noutro caminho, a facilidade e a sorte são ilusões equivocadas. Nesse modelo de disponibilização caótica de espaço para o texto (qualquer um), a premissa de que o primeiro requisito para a visibilidade e reconhecimento deveria ser a excelente qualidade do texto não tem validade. Pelo que percebo da dinâmica na web,especialmente pensando no papel das "poderosas" redes sociais, o principal ingrediente talvez seja a implementação de um bom marketing e construção de uma grande rede para disseminação e discussão do conteúdo. 

Com tal cenário, assoma a pergunta sobre o efeito desse excesso (zilhões de blogs, revistas literárias que surgem e morrem com grande velocidade, a relativa facilidade da publicação em e-book)sobre o modo como o escritor contemporâneo pode ou precisa conduzir suas investidas em busca de espaço real (ainda que no plano virtual). Vale a pena dedicar horas preciosas do tempo em que se poderia estar refinando a própria escrita para tentar obter atenção em blogs e grupos dedicados à escrita nas redes sociais ou estes nichos estão apinhados de um único interesse: cavar seu próprio espaço? Explico melhor: as comunidades para troca entre escritores, propiciam troca real, onde a crítica poderia alavancar o desenvolvimento do estilo ou todos apenas querem se fazer "ouvir" sem disponibilidade para troca efetiva?
Encontrar alguma resposta, mesmo que parcial para essa inquietação passaria por uma discussão muito mais longa, mas por hora deixo o blá-blá-blá sem conclusão, só com essa sequência de interrogações. Alguém aí tem outras versões a apresentar ou algo que se aproxime de uma resposta?? Me conta, vai! 

E para não dizer que não falei de flores (as que eu mesma planto), deixo aqui o link para meu conto na Off Granta e convido-os a ler e tirar suas próprias conclusões.

24/07/2012

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Comentários:

Enquanto o mundo for uma bola e o sistema nada mais que um jogo de cartas marcadas com arbitro comprado do começo ao final pelo estado,não posso me manter calado...enquanto o manipulado e mudo e acha nessesàrio esse jogo sujo...nas entre linhas das palavras tagareladas pra cumer nossas mentes por todos os lados...por todos os sentidos agimos como marionetes nesse jogo da vida ...que gira ,que gira na roleta do tempo que não para...no tambor dos revolveres as balas...no tic tac dos relògios o gatilnho que dispara na mesma hora marcada,na mesma hora sagrada uns se benzem outros oram atraindo a sorte,afastando o azar;com todo tipo de fè que puder imaginar muitas mentes vazias(ofina do diabo) porpiiiiiiii!carpiiiiiii!putpiiiiiiiiiiii!que pariu esse sistema que criou vida propia em cada um de nos o querer e ter o poder em um estalar de dedos,como vara de condão na palma da mão a realização dos sonhos egoistas ou não emporta a porta arombada...se ela vai do nada pra lugar nenhum...pode acontecer com qualquer um...etc,etc,etc, e um poema que estou terminando espero que goste.thau!linda
janes clemerson c da silva, manaus-am 13/08/2012 - 21:24
achei super interesante;tambem gosto de escrever e pintar, gostaria de lhe enviar algumas pinturas minhas se vc quiser e claro.não mais vc e linda tambem;com todo respeito
janes clemerson c da silva, manaus-am 13/08/2012 - 21:05
Maurem, achei a ideia do Marcos Faria, de juntar os textos não selecionados para a Off Granta bem criativa. Tenho certeza que alguns textos podem ser até melhores dos que foram publicados na revista! Concordo contigo que são muitos textos literários, técnicos e mais milhares de outros tipos de escrita que temos na Internet. Eu como profissional bibliotecária e metida a poetisa, sei bem o quanto é difícil selecionar este material, quando se precisa principalmente de autenticidade. Enfim, os conteúdos são ecléticos e as pessoas também, ainda bem ... Vamos continuar observando os próximos acontecimentos literários:(blogs, posts e etc.) Abraço,
RAQUEL GUIMARÃES, Porto Alegre/RS 31/07/2012 - 11:26
Você expôs muito do que muitos sentem e pensam sobre a quantidade de textos que é disponibiizada em todos os meios de comunicação, entre os quais, os "nossos", de forma lúcida e real. Percebo que´estamos chegando a uma faiza de desenvolvimento em que tudo ocorre em grandes proporções, é o excesso de população também.Como enfrentar isso é uma questão.as redes foram usadas mas não solucionam as oportunidades, mesmo que sem grande ambição e também atinge todas as profissões. Gostei que vieste assim a público, corajosamente. Abr.
Vera Verissimo, POA/RS 24/07/2012 - 13:39
Maurem, ficho feliz que você tenha tido essa experiência, pois ela corrobora o meu argumento de que o problema da literatura em tempo de megapixels é mais essencial do que se pensa. Todos aqueles que defendem a web como ágora democrática esquecem das verdadeiras engrenagens que operam em favor deste ou daquele. E isso remete à falácia dos e-books. Mas isso é outra discussão. Abs
Cassio, Poa/RS 24/07/2012 - 11:17

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  Maurem Kayna

Maurem Kayna é engenheira florestal, baila flamenco e se interessa por literatura desde criança. Depois de publicações em coletâneas, revistas e portais de literatura na web resolveu apostar na publicação em e-book e começou a se interessar por tudo que orbita o tema, por acreditar que essa forma de publicação pode ser uma das chances de aumentar o número de leitores no Brasil. Autora da coletânea de contos Pedaços de Possibilidade, viabilizado pela iniciativa da Simplíssimo.

mauremkayna@uol.com.br
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