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Escrita

Mover os dedos
Caroline Rodrigues

O que está por trás disso que a gente chama ‘escrever’? Existe um desejo, originado nos mais diversos tipos de solo, alimentado aos poucos e crescendo em meio à aridez do real. Ele se nutre de fuga ou de amor pelas palavras, de mente alçando voos ou de pés no chão. A vontade de escrever precede o desejo de se tornar escritor ou a vontade de se tornar escritor precede o desejo de escrever? Deve haver espaço para ambas em tantos peitos diferentes, porém, é certo que a ação de escrever sempre virá antes do título.

Há um mover interno, um impulso que nos coloca em frente a uma folha de papel, que move nossos dedos sobre um teclado. Não há alguém esperando pelo resultado do que foi feito, nenhum doente aguardando um remédio ou um cliente solicitando ajuda em um caso judicial. Virgínia Woolf diz que “há a indiferença notória do mundo. Ele não pede às pessoas que escrevam poemas, romances e histórias; ele não precisa disso”*. Na verdade, o mundo não se importa se é você quem está subindo essa montanha para compor uma história minimamente decente. Há muitas pessoas que precisam de poemas, romances e histórias, torcendo pela sua subida, mesmo que não seja possível ouví-las.

A permanência das palavras é crucial, assim como é a busca pela forma certa, pela metáfora apurada, pelo desfecho imprevisto. Não se pode somente contar uma história ao ar livre, em frente a uma fogueira ou diante de alguns ouvidos, por mais atentos que estejam. É preciso rever, reestruturar, ressignificar.

E ao se sentar diante desses instrumentos, que sons serão os mais importantes? Uma voz interna nos guia, apontando alguma direção para onde voltaremos nossos olhos. Esta é a nossa verdade. É possível escrever fora disso, mas raramente se tornará agradável a outros ouvidos. Trilhar um caminho falso, onde nossos pés estarão desajustados, pode ser um erro. Virgínia Woolf diria “contanto que você escreva o que tem vontade de escrever, isso é tudo o que importa; e se isso importará por eras ou por horas, ninguém pode afirmar”*.

Talvez você ache esse caminho banal, sem heroísmos ou grandes feitos. Somente uma estrada onde encontrará personagens da vida comum, mulheres consideradas sem importância durante séculos, crianças brincando em meio ao lixo, idosos em casas de repouso, enfileirados em suas cadeiras de rodas ou de balanço. Quem sabe, não está na hora de desviar das rotas de guerra ou dos considerados grandes feitos da humanidade? Colocar novos marcos de importância nos mapas da história real e ficcional.

Talvez o percurso seja guiado por uma pessoa comum, vivendo ações cotidianas. Se a voz aponta, existe verdade, existe algo a ser dito. Então, é possível pegar outros instrumentos, aqueles da carpintaria fina, como narrador, ambiente, conflito, por exemplo, e talhar uma história universal. Afinal, é disso que se trata. São olhos percorrendo linhas tentando achar-se no espelho da narrativa.

É possível que as primeiras palavras resultem em caminhos muito tortuosos. É bem possível que sejam necessárias linhas e mais linhas e mais linhas escritas até encontrar um refúgio, onde haverá um córrego e a água fará parágrafos e parágrafos fluírem com rapidez e segurança. Até lá, não há outra maneira senão colocar-se em movimento, ou seja, escrever.


*(Um teto todo seu, Ed. Tordesilhas)

01/11/2020

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  Caroline Rodrigues

Caroline Rodrigues é tradutora e escritora. Nasceu em São Sebastião do Caí/RS, em 1977, e atualmente mora em São Leopoldo/RS. Formada em Letras, Mestra em Linguística Aplicada e Pós-graduada em Tradução. Egressa do Curso de Formação de Escritores da Metamorfose, tem contos publicados em antologias da editora, publica textos em seu blog, na Revista Parêntese e no blog da Escritor Brasileiro. É autora do livro de contos Sempre tem uma cachoeira, pela Editora Metamorfose. Em 2022, participa da Oficina de Criação Literária da PUCRS.

caroline.letras@gmail.com


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