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Educação

O certo e o errado no ensino da Língua Portuguesa
Marcelo Spalding

Chegou aos noticiários nacionais o dilema de cada professor de língua portuguesa: diante das novas teorias linguísticas e, em especial, da sociolinguistica, como lidar com variações como “nós pega” ou “os carro” em sala de aula? Simplesmente apontar o erro seria reforçar o que tem se chamado de preconceito linguístico, mas deixar de fazê-lo poderia colocar a disciplina num limbo perigoso onde o vale-tudo acaba com a especificidade da disciplina.

O tema ganhou relevância graças à polêmica provocada pelo livro Por uma Vida Melhor, da Coleção Viver, Aprender – adotado pelo Ministério da Educação (MEC) e distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (PNLD-EJA) a 484.195 alunos de 4.236 escolas. Confira um trecho do livro, publicado pela Editora Global:

“Você pode estar se perguntando: ‘Mas eu posso falar ‘os livro’?’ Claro que pode. Mas fique atento, porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico (…) Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas.”

Professores respeitados, como Claudio Moreno, foram enfáticos na defesa do ensino do português chamado padrão, reafirmando que o papel da escola é ensinar o futuro cidadão a se utilizar da língua escrita culta, “cujas potencialidades espantosas aparecem na obra de nossos grandes autores”. Para Moreno, “os lingüistas sabem que nosso idioma é muito mais amplo do que a língua escrita culta que é ensinada na escola — mas a escola sabe, mais que os lingüistas, que essa é a língua que ela deve ensinar”.

Por outro lado, lingüistas de consistente formação acadêmica, como Pedro Garcez, reiteraram que não é uma questão de certo e errado, mas de adequação: “de certa forma, todos nós brasileiros produzimos frases com falta de concordância. Isso do nosso ponto de vista não é erro, é a linguagem natural. Esse é o português brasileiro.”, afirma o professor da UFRGS.

Claro que a questão é mais profunda do que esses exemplos um tanto grosseiros pegos pela mídia, pois outras tantas construções corriqueiras são erradas do ponto de vista gramatical, mas continuam sendo repetidas por pessoas das mais variadas classes sociais e pela própria mídia. Exemplos? “Tu vai”, “duzentas gramas”, “Houveram momentos”, “Me empresta”, “Ele trouxe para mim ver”, “Assisti o show”, etc.

No fundo o que está em jogo é a entrada de novos atores sociais no dia a dia da língua portuguesa, com suas influências e estilos. O paulistano usa “então” no começo de cada frase, um vício de linguagem horrível, mas nem por isso se discrimina o paulistano ou, por outro lado, se usa isso em filmes, novelas e livros didáticos. Mesma coisa o “r” carregado dos cariocas ou o “tu vai” dos gaúchos. Essas são as variações geográficas, por isso não causam tanto furor como as variações sociais, marcas linguísticas de classes ou grupos sociais específicos. Essa variação pode ser de interpretação, léxico, sintaxe e até ortografia (como os sempre criticados “vc” ou “tb” da Era Digital).

E o professor, em sala de aula, faz o quê? Uma das formas de lidar com o problema sem encara-ló de frente tem sido concentrar o trabalho com a Língua Portuguesa em textos, evitando a normatização da gramática e da ortografia. Mas será que, afora os exageros, não é importante que os jovens tenham um conhecimento técnico de sua língua, e não apenas intuitivo, para melhor interpretação, correção, clareza e variação na leitura e na produção textual? Não será importante, especialmente aos futuros profissionais da língua, como comunicadores, advogados, professores de todas as áreas, cientistas sociais, etc, saber onde se utiliza ou não o “a” craseado, a vírgula, a preposição antes do “que”? E não é importante que, para isso, eles saibam pelo menos o que é um sujeito, um verbo, um objeto, um adjunto adverbial? Um adjetivo, um advérbio, um substantivo, um pronome, uma preposição?

Pode parecer espantoso, mas nem sempre eles sabem. Não com facilidade. Vejamos um exemplo bem prático do meu dia a dia em sala de aula, a frase "A expansão desenfreada da cidade é uma grande ameaça para seu desenvolvimento". Para muitos, o verbo é "expansão", o que pode causar grande confusão na hora de concordar o verbo com o sujeito e faria com que muitos escrevessem essa frase com “Há” ou “À” no lugar do “A”. Adiante, poucos percebem que “seu” é um pronome que retoma “a cidade”, ainda que um esteja no masculino e o outro no feminino.

Claro que o mais importante não é a gramatiquice, é que nosso cidadão saiba expressar-se com coerência, coesão e, mais ainda, tenha postura crítica e ideias originais. Também é importante, entretanto, que não sejam sonegadas desse cidadão as regras sociais, incluindo aí o português padrão, pois ali adiante esse desconhecimento pode acabar excluindo, ou, pelo menos, subvalorizando pessoas de alta capacidade e que lutaram muito para reescrever seus destinos.

O papel da escola, enfim, é apresentar e ensinar ao aluno a variante “culta” da língua: aprender ou não, interessar-se ou não por ela, é um direito do aluno, mas se ele precisar dessa variante e não conhecê-la por omissão da escola teremos praticado, sem exagero, um crime. Dos grave.


07/06/2011

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Comentários:

As dificuldades de nossa língua, não são motivos para não buscar aprender corretamente, se conseguirmos melhorarmos em pelo menos 50% as nossas deficiências, já diminuiremos os tamanhos dos "crime", praticados. Parabéns pelo texto Marcelo.
Maria Cicera Araújo Fonseca, So Paulo 10/06/2021 - 15:47
Excelente. Mais claro impossível. Ora, devemos deixar as pessoas ao bel prazer da ignorancia? A quem interessa o desconhecimento? Quem ganha com a ignorância do cidadão? A língua é o meio de expressão e também de acesso à cultura em todos os aspectos.
CARLOS LEANDRO MAIDANA DA SILVA, Porto Alegre 22/02/2021 - 00:43
Parabéns pelas colocações, Professor. Concordo. Tive a experiência de trabalhar com professores de Língua Portuguesa que não corrigiam os erros de Português dos alunos, acreditavam que deveriam respeitar as especificidades inerentes à língua. Sempre apontei e corrigi seus erros. Acredito, também, que é um direito do aluno conhecer a língua culta e ter o seu direito assegurado. Adriane Turossi, Canoas, RS
Adriane Turossi, Canoas 19/08/2020 - 11:14
Muito obrigado, Professor Marcelo. Mais um excelente texto. Com a profusão de celulares e tablets, o desafio é ainda mais para as pessoas - o internetês está em expansão.
Luiz Alexandre Kikuchi Negrão, So Paulo/SP 07/06/2020 - 19:14
Estudei na primeira e única turma de Licenciatura em Português do IPA Metodista em Porto Alegre. Lá o ensino combatia, e muito, o preconceito linguístico. A correção, pura e simples, pode ocasionar abandonos de estudos em grandes talentos. É preciso ir além e incentivar, principalmente, a mensagem que o texto passa. Afinal, a função principal da linguagem é comunicar.
Ney Porto Alegre, Rio de Janeiro 17/04/2020 - 20:16
Obrigada Marcelo por todos os esclarecimentos que, ao meu ver são importantíssimos. Temos no Brasil vários (portugueses-formas de falar). De um Estado para outro, a diferença é muito grande. Existe sim muito preconceito, pois muitos brasileiros não têm a oportunidade que temos. É um problema social. Precisamos respeitá-los. Por outro lado, nós, eternos aprendizes precisamos nos esforçar, com afinco, para aprender cada vez mais e cometermos menos erros. Obrigada e um abraço.
Marisa Burigo, Porto Alegre 29/01/2020 - 15:22
Adorei o texto!!
VIVIAN FERREIRA, Rio de Janeiro-RJ 20/11/2018 - 13:11
A língua coloquial é adquirida naturalmente ao longo da existência do indivíduo, sendo que a padrão está externamente posta nos livros e em outros suportes ou na fala dita culta elitizada e é definida assim por uma conversão, por causa disso, requer do professor que a coloque a disposição do discentes, para que eles a aprenda. O que não se deve descuidar, é do modo de como tratar a questão, pois ao longo de sua escolarização, principalmente do ensino fundamental, os alunos geralmente foram induzidos a desvalorizar a variável coloquial que ele adquiriu naturalmente, utilizada diariamente para fazer a interação com os outros falantes. Só esse fato, já demostra a importância dessa modalidade, de modo que, desprezá-la, além de ser incoerente, fortalece o preconceito contra quem faz uso dela. Quando o preconceito não é combatido nos primeiros anos da vida escolar, os alunos chegam ao ensino médio já internalizado em sua mente, a ideia que falam o português errado e que precisam ir à escola, assistir aula de Língua Portuguesa para aprender o português correto, por causa disso, tende a se tornarem intolerante com quem fala a variante coloquial da língua, quando passa a dominar o uso da norma culta. Se o professor (a) deixar essa ideia enraizar na mente dos discentes, certamente fortalecerá o preconceito linguístico futuramente, por isso, o docente deve ficar atento a qualquer sinal de preconceito linguístico expressado em sala. Por que se deve ficar atento? Porque o preconceito se manifesta inconscientemente por meio de práticas consideradas naturais por quem o exercer. Isso é um perigo, se o combate ao preconceito linguístico não trazer a luz o problema, pode criar uma geração que além de nega seu passado, se tornará odiosa com os menos favorecidos, a além do que se pode achar que só quem fala o Português padrão está apto para exercer a cidadania. Dessa ideia, surge a verdadeira exclusão linguística e o que é pior, nesse caso, o aluno ao invés de se apropriar da norma culta, entendendo ser mais uma ferramenta para ele exercer a sua cidadania com mais propriedade, baseado no uso da língua de modo civilizado, acaba por exercê-la enveredado pelo caminho da ignorância e a prática da inclusão e do ódio. Esse modo de se comportar é observável, com facilidade, quando se percebe alguns comentários no “facebook” ou em grupo de “WhatshApp”, onde se algum popular, que não domina a norma culta, faz um comentário ou dá a sua opinião a respeito de um determinado tema, sendo que a sua escrita apresente alguns problemas ortográficos, a ideia dele pode até estar coerente, contudo, logo aparece um comentário desqualificando a sua ideia, simplesmente por ele não dominar a norma dita culta da escrita. O interessante é que logo em seguida, o cidadão que recebeu a crítica por escrever “errado”, na maioria das vezes, não entra mais naquele debate. Esse fato, deixa claro duas preposições, a primeira é de que as escolas, com raras exceções, não estão cumprindo seu papel civilizatório e humanizador, fato que deixa evidente a necessidade de se mudar a forma de como é feita essa abordagem em sala pelos professores. A segunda, dar-se pelo fato de que ao invés dos alunos se apropriarem do conhecimento dessa variante linguística para exercer a sua cidadania com plenitude criando um ambiente respeitoso, para que as interações linguísticas aconteçam primando pelo respeito ao modo de se comunicar do outro, termina por fortalecer a intolerância.
Manoel Messias Serafim dos Santos, Redeno 14/02/2017 - 00:20
Muito bom o artigo, Marcelo! Mas creio que o aspecto ideológico também está por detrás dessa celeuma toda. A propósito do tema, escrevi um texto que expressa mais ou menos o que penso sobre o assunto. Eis o link: http://www.atribunanews.com.br/artigos/preconceito-linguistico-ednaldo-bezerra
Ednaldo Bezerra, Recife-PE 22/12/2016 - 19:27
Estou participando da Oficina de Escrita Literária e apenas hoje li esse texto do Prof. Marcelo. Gostei de seu posicionamento e também de muitos comentários que o seguiram. Primeiramente dou razão ao professor Claudio Moreno, citado por Marcelo, quando defende o ensino do português chamado padrão e reafirma que o papel da escola é ensinar o futuro cidadão a se utilizar da língua culta. Também concordo com o professor Pedro Garcez quando diz que não é uma questão de certo e errado, mas de adequação. Para uma reflexão, deixo aqui o meu depoimento: Vivi parte da minha infância num vilarejo do interior catarinense. Lá, eu e meus muitos irmãos andávamos de pés descalços (por falta de sapatos) e as pessoas ao nosso redor falavam “tudo errado”. Até meu pai cometia “pecados linguísticos”, pois não teve a oportunidade de terminar o curso primário. Felizmente, minha mãe tinha mais estudo e, além de falar bem, sabia escrever bem. Minha alfabetização se iniciou aos sete anos, no salão da pequena igreja local, com professoras voluntárias, mães de família. As turmas eram mistas e por idade. Na parte da manhã estudavam os mais velhos e na parte da tarde os mais novos. Éramos tão pobres que escrevíamos em folhas soltas e não tínhamos sequer lápis de cor. Aos oito anos, fui morar com meus avós maternos, numa cidade do interior do RS. Já estávamos em outubro e eu cursava o segundo ano. Pela primeira vez estudava num Grupo Escolar, onde tudo era bem organizado. “Preconceito” era palavra que não se usava naquela época. Fiquei na turma da tarde, composta pelos alunos mais fracos. Os alunos mais adiantados, e entre eles os filhos dos professores, estudavam nas turmas da manhã. Para mim foi um choque cultural, longe dos pais e irmãos, longe do meu mundinho conhecido. Era tímida e achava que não ia passar de ano, então rezava para o meu anjinho da guarda me ajudar. E ele me ajudou: tirei o 2º lugar nas provas de fim de ano e assim, no ano seguinte, iniciei o terceiro ano na turma da manhã. As professoras eram ótimas e davam o melhor de si. Aos 13 anos, comecei a estudar à noite, no meio de adultos e jovens da minha idade que já trabalhavam durante o dia. Gostava de estudar, gostava de ler. Era eu que, com meu trabalho, pagava meus sapatos, minha roupa e meus cadernos, e a mensalidade da escola. O governo não nos dava nada (década de 1960). Os professores eram ótimos. O diretor foi meu professor de Ciências, o melhor professor do mundo: era exemplar em suas atitudes e nos ensinava a ter disciplina e respeito. O professor de português também foi notável. Era uma pessoa extremamente educada, nos ensinou a ler livros, começando pela capa: o título, o nome do autor, as informações da 2ª página... Aprendi a escrever bem, usando um pequeno e velho dicionário. Eu mesma não admitia escrever qualquer palavra de forma errada. Continuei estudando à noite, depois fiz vestibular. Não consegui vaga em universidade pública. Meu primeiro curso foi em Faculdade particular, paga com meu salário. O segundo também, e todos os outros cursos que fiz, inclusive idiomas estrangeiros. Hoje, me pergunto por que o ensino público em meu país regrediu tanto. O governo paga mal aos professores e gasta uma fortuna com material escolar. Os alunos recebem tudo de graça e não respeitam sequer os professores. Muitos deles chegam semianalfabetos nas universidades. A “Pátria Educadora” é uma piada de mau gosto: embutida neste falso discurso está a disseminação de sua ideologia equivocada e ultrapassada. (Neste momento, de pós Impeachment, o clima nacional é ainda mais incerto, pois os próprios professores estão divididos e já não sabem qual é o seu lugar na sociedade.)
Rosa Maria, POA 11/10/2016 - 13:20
Adorei o texto! Mostra realmente o que se passa em nossas escolas!
Paula Junges, Porto Alegre 01/10/2012 - 11:32
Profº Marcelo, É um ótimo texto. Mas precisamos saber, como em tantas outras questões do ensino, se queremos mesmo continuar tendo o português (culto ou não) como língua. Mesmo que a escola ensine aos alunos a linguagem culta,existe variações. Essas variações, poderia ser apresentado aos alunos. Ensinando que cada cultura do Brasil, tem sua variação lingüística.
Rubiane Karla, Canoas 04/09/2012 - 21:13
Grande professor Marcelo! Excelente texto. Parabéns por sua dedicação ao ensino de nossa língua!
Richard Bruno Bachmann, Porto Alegre/RS 09/06/2012 - 14:47
Ótimo texto. Concordo que devemos respeitar a forma de cada pessoa falar, mas a escola tem o dever de ensinar a gramática também. Muito do que sei de Português aprendi com meus professores. É claro que cada pessoa tem a sua preferência, tem o direito de gostar ou não.Mas a escola tem o dever de ensinar o correto sem deixar de valorizar as variações linguísticas. Teus textos me fazem refletir e isso apura o nosso senso crítico.
Dalva MariaTatsch Machado, Trs Coroas/RS 11/04/2012 - 22:33
Achei muito interessante os preconceitos que se forma com os regionalismos, muitas vezes acho graça porque isso pega. Certa ocasião fui para a região de Minas Gerais e quando me dei por conta, eu também estava falando a expressão "uai", ainda bem que passou, não falo mais...
Vera, Jaragu do Sul, SC 22/03/2012 - 22:28
Beleza seu texto, Marcelo! faz tempo (desde o estouro do assunto na mídia) que desejo comentar esse assunto. Porém, desconhecendo o contexto dos termos dentro do livro não me atrevi. Você aqui publica um trechinho maior, por onde se pode perceber que(como diz outro comentário anterior), além de quererem sacralizar o erro como aceitável, nota-se também uma tentativa de incriminar a correção como um ato de preconceito. Isso é, de fato, querer emburrecer a sociedade, puxando o tapete dos professores que lutam para que os alunos desenvolvam suas potencialidades de comunicação na Língua Pátria. Abraços. Continue sua luta em prol da Cultura, em diversas frentes. Eu festejo e torço por seu sucesso, sempre!
Nelsi, Canoas 18/06/2011 - 21:35
Marcelo, gostei da abordagem. Acredito que seja preciso lembrar a utilidade de se ter domínio sobre a função e possibilidades do idioma, afinal, a língua é o nosso insumo para pensar, não!? E a norma culta, não como estreiteza de regras, mas como clareza sobre a função de cada palavra, pode ser bom material para que o indivíduo articule suas ideias e faça delas impulso para a própria vida.
Maurem Kayna, Guaba - RS 15/06/2011 - 11:17
Quero saber o que é preconceito. Então: repreender e/ou orientar é preconceito? Putz....
Luis Ventura, Porto Alegre 15/06/2011 - 11:17
Marcelo, ótimo texto, especialmente na conclusão e na ironia final. Não concordo, porém, com o início da resposta à pergunta colocada no primeiro parágrado, onde se lê: "apontar o erro seria reforçar o que tem se chamado 'preconceito linguístico'." Creio que chamar o errado de "errado" não é apenas a asserção de uma verdade; é uma contingência semântica. Portar-se (aquele que tem a obrigação de ensinar) de outro modo é contribuir para a perda de sentido de um vernáculo, sendo uma espécie de condômino da ignorância alheia. Mais que isso, subscrevo a frase de Schopenhauer: "(...) desmerecer o que é ruim constitui uma obrigação em face do que é bom." Há outras duas questões nesse livro adotado pelo MEC, as quais acho ainda mais estapafúrdias que o tiroteio ao nosso idioma indefeso: 1. o sugestionamento de que a língua corrobora para uma luta de classes; 2. a imposição vertical - tácita, porém dolosa - do emburrecimento das massas. Mas isso deixemos para outro momento. Abraço, Mártin
Mártin Haeberlin, Porto Alegre 07/06/2011 - 10:50
NECESSIDADE FISIOLÓGICA Concordo que tudo na vida precisa-se de regras, principalmente quando escrevemos uma redação ou uma crônica. As normas gramaticais não podem der transgredidas, pois haverá interferências na comunicação. Não me importo de me corrigirem. Aprendo e tento não errar mais. Entretanto, reprovo totalmente o escárnio que muitos fazem quando observam um equívoco. Por exemplo, sempre são mostradas listas de “gafes” cometidos no vestibular e todos riem desbragadamente, fazendo piadas a respeito. Isso não ajuda em nada. Por muitos anos fiquei bloqueado, tinha medo de errar. As ideias vinham, mas me sentia incapaz de concretiza-las em texto. Recordo-me de um coordenador que riu na minha cara, porque cometi um erro grosseiro ( “difício”). Realmente é inaceitável para um pré-vestibulando, porém como coordenador pedagógico poderia ter me orientado melhor, indicando-me livros... Não quero me fazer de vítima, dizendo que sou da geração da televisão ( 70 e 80). Há escritores mais novos que possuem vasta bagagem cultural e publicaram até livros. Iniciaram na literatura desde cedo e outros têm a genialidade para o ofício. Quanto a mim, comecei mais de vinte anos e, ao longo do tempo, percebi como tenho déficits adquiridos pelos anos de indiferença a tudo. Na minha adolescência sofri de uma apatia terrível, não gostava de nada e achava que não tinha capacidade. Mas, agora, sei que escrever, para mim, é o mesmo que uma necessidade fisiológica. Continuarei a praticá-lo mesmo com os erros básicos ( uma vez no trabalho da faculdade, ao invés de escrever voz, coloquei “vos”.); persistirei. Buscarei novas leituras e treinarei nos meus blogs, onde constantemente republico os posts quantas vezes quiser. Por isso, podem comentar e criticar à vontade. Tenho mais de trinta anos e tenho que aprender a filtrar o que é bom do ruim. Não vou mais me trancar.
Eduardo Oliveira, - 07/06/2011 - 10:50
Muito interessante teu texto Marcelo. Sou professora de Literatura e de Inglês e sempre abordo tais questões. Não abro mão da forma culta na escrita. Na fala, nós, os gaúchos, de maneira especial, somos pessoas "singulares". Com algumas exceções, lamentavelmente, não usam o "s" final. Na escrita, devemos enfatizar e cobrar. Sou igualmente intolerante ao "emo" (fizemo, encontremo, lamentemo), que alguns alunos insistem, para desespero mais que justificado dos professores. abraços Maria Regina
Mara Regina, Rio Grande do Sul 07/06/2011 - 10:49
Prezado Marcelo: gostei do e-mail e na minha opinião-como nordestino e escritor amador-uma coisa é a "norma culta", outra como nos expressamos e mais uma o papel dos professores. Também há coisas que me incomodam, quando você cita o "Então..."dos paulistanos, acredito que isso venha dos norte-americanos através dos filmes, o famoso "So...", agora o que noto aqui em Recife ultimamente é o pessoal sempre dizendo: Ah,tá...(não sei de onde veio). Enfim,temos que abrir o diálogo sobre o nosso rico idioma,não? Abraço literário de Jackson Franco.
Jackson Franco, Recife 07/06/2011 - 10:48
Parabenizo-te pelo texto, acho que os teus pensamentos ajudam na reflexão sobre o assunto que não quer sair da mídia. Confesso que ando meio cansado dessa discussão. Evidentemente, o estudo das "adequações linguísticas" cabe ao sociolinguista; entretanto, mostrar aos alunos os níveis de linguagem também é papel da escola. Acredito que o problema se concentra na ênfase que se dá a esse estudo. A autora do referido livro foi infeliz no exemplo. Ela assinalou uma frase quase agramatical. Tal sentença aponta praticamente uma dezena de erros de concordância. Algo impraticável. Depois disso vem a mídia "caindo de pau", aproveitando o momento para instaurar a discussão que vimos. Sei que a história vai se repetir daqui a alguns anos quando um outro colega cometer o mesmo deslize: exagero em um exemplo que mostra uma situação de fala. Aí então, vários colegas que usam a norma culta como instrumento de poder saltarão como os defensores do conhecimento. Isso tudo me cansa. A escola tem a obrigação de ensinar a norma culta, contudo não pode se eximir da responsabilidade de mostrar a língua na sua inteireza. Penso que o problema não está em decidir o que ensinar, para mim isso é simples. A escola tem de trabalhar a língua como um todo, sem esquecer de enfatizar que o desnvolvimento intelectual se baseia em um nível de linguagem que necessita ser uniforme. Como tu mesmo disseste: o contato com a língua padrão deve ser proporcionado, e o usuário da língua decidirá se usufruirá dele ou não. Acho que os meus colegas sociolinguistas não sabem como expressar as suas ideias. Quando deixarem de ser tão incisivos e passarem a ser mais cuidadosos em suas colocações, a sociedade passará a entender melhor o que significa estudar a língua materna. Nesse dia, daremos o primeiro passo para melhorar o estudo DA NOSSA LÍNGUA. Um forte abraço, Everson
Éverson Ribas da Rocha, Porto Alegre 07/06/2011 - 10:48
Assino embaixo e concordo em gênero e número com o teu posicionamento frente a essa postura inadequada, que graça por aí, como sendo a salvação do aluno brasileiro . Obrigada por ter-te pronunciado de modo claro, conciso e correto, como deve ser o ensino da Língua Portuguesa, com certeza. Helena
Helena Zamprogna, - 07/06/2011 - 10:47
Porco dio, Marmelo! Tu tem é toda a razom nessa argumentaçom contra o Aldo Rebello! Querem ensinar o povo a não falar português e proíbem, como Cariom, a dizer em gringoglês! Proibir o polentaliàn é outro ero de aprendiz: já viu comer pissacàn sem molho de perdiz? Sabugos para o povo!
Joanim Pepperoni, - 07/06/2011 - 10:47
Muito interessante a sua posição mediante ao que sucedi na educação, discordo totalmente da aprovação do MEC, em não pensar que existe uma linguagem culta que é usada mundialmente, as ressalvas são apenas as falas regionais. A mídia está enfatizando muito a aprovação do tal livro, acredito que em breve eles seram retirados das escolas, está situação está obtendo muito clamor público. Um abraço Tatiara
Tatiara Muniz, Canoas 07/06/2011 - 10:46
Pretexto para vulgarização da língua, não deixemos que isso ocorra, o professor deve mostrar ao aluno o quão importante é saber falar, não deixá-lo evoluir em plena ignorância. Sem preconceito é claro. Muito legal Abraço
Felipe Geitens, Porto Alegre 07/06/2011 - 10:46
Marcelo, Parece que depois dos gregos não inventaram mais nada que preste. Dito de outra forma, ainda fico com a definição de classicus scriptor: "aquele que escreve bem, com adequação e propriedade, com uma certa musicalidade e cria belas imagens". Concordo, sobretudo com o final do teu texto.Mas confesso que fiquei mais preocupada com os vídeos distribuídos pelo MEC às escolas: um desperdício de dinheiro público! E aí a palavra crime cai melhor ainda pois faltam cadeiras, quadros, professores que são mal pagos e eles gastam com uma coisa totalmente inútil que não serve pra nada. Sinceramente, não sei o que o Ministro e seus assessores têm na cabeça! Pra mim, deveriam fazer uma auditoria e fazer devolver esse dinheiro, repassá-lo para escolas, para remunerar os professores, etc. Cada vez que penso no Brasil me lembro do livro do Deleuze : Capitalismo e esquizofrenia. Esse caso do Mec e tantos outros me parecem diagnóstico de uma sociedade esquizofrênica e totalmente alienada. Mas vamos lutando... Abraço Maria Regina
Maria Regina Barcelos Bettiol, - 07/06/2011 - 10:45
Bravo colega, muito claro e didático, sem adentrar em nenhum preciosismo léxico ou outa firula qualquer. Gostei. Precisamos saber, optar, como em tantas outras questões do ensino, da escola, se queremos mesmo continuar tendo o português (maroto, mas enfim...) como língua, ou partir francamente para o brasileiro como na verdade está sendo insinuado. Uma coisa é a linguagem coloquial, do que ninguém abre mão, outra é o desconhecer de como realmente falar (melhor dizendo, escrever) corretamente. No fundo, outra crucial questão da educação do brasieliro em todad as frentes, os limites. É ai, me parece, que está a origem do tropeço... abs. Ivone
Ivone Coelho de Souza, Porto Alegre 07/06/2011 - 10:44
Estimado Marcelo Spalding: Agradeço a mensagem que veicula o seu artigo "O certo e o errado no ensino da Língua Portuguesa", e manifesto o meu veemente acordo com a abordagem em geral e, em particular, com a proposição expressada no último parágrafo. Essa temática me interessa em especial no momento presente porque a linguagem é o tema do romance no qual estou trabalhando atualmente – na verdade é uma "nouvelle", termo empregado em França para designar "conto longo" – cujo argumento aborda a relação entre o vocabulário de que um indivíduo dispõe e o nível de consciência que tem de si mesmo e do mundo que o cerca. A consciência do personagem, um prisioneiro condenado por homicídio, se expande na medida em que aumenta a sua destreza para se expressar através da palavra. Num momento dado o protagonista afirma: "Se soubesse usar as palavras como hoje sei, talvez não tivesse feito o que fiz, mas como não sabia, não poderia ter feito de outro modo". Devo dizer que a importância da linguagem é um tema recorrente nas minhas obras: o meu último romance, "Enquanto o vento" que está sendo publicado pela Editora Movimento, com lançamento previsto para Novembro deste ano, também transita por essa temática, na medida em que um dos protagonistas é mudo e outro não se expressa no idioma local, ou seja, a história de vida desses personagens teria contornos distintos se dispusessem da palavra como meio de expressão. Pelo exposto, poderá avaliar o interesse que despertaram em mim os assuntos que aborda nos seus artigos e agradeço que tenha incluído o meu endereço eletrônico na sua mailing list. Com igual apreço li "Yes, nós queremos preservar a língua portuguesa" e, também nesse caso, congratulo-me com a sua lucidez e sensibilidade em relação à importância da preservação desse valor essencial à nossa cultura. Com os meus melhores cumprimentos. Tania Alegria
Tânia Alegria, Porto Alegre 07/06/2011 - 10:44
Olá, Marcelo. Li seu texto com bastante atenção e tenho acompanhado com interesse essa discussão, que afinal de contas também tem pontos de contato com o conflito que o meu livro Heroísmo de Quixote, em sua linguagem qualificada como "inadequada" à crianças, devido às expressões chulas, causou no Rio. Tu deves saber, ele e os demais foram retirados das bibliotecas escolares pela SMED/Rio. Na verdade, por trás de tudo isso, percebo uma disputa política entre aqueles que desejam exercer controle sobre um campo simbólico poderoso: a língua, principalmente a escrita. Também acho que o jornalismo transformou tudo numa bola de neve, assim como fez com o meu livro, cuja publicidade dada ao caso culminou na censura do SMED. Acho que estás muito certo em tudo o que disseste. Porém, é fácil verificar - para quem está bem informado, como nós, íntimos estudiosos dessa área - que em nenhum momento o livro distribuído pelo MEC pretende eliminar o padrão culto, substituindo-o pelas variantes; mas sim apresentá-los e compará-los, dando início a um processo de imersão na língua culta, facultativo ao aprendiz.
Paula Mastroberti, Porto Alegre 07/06/2011 - 10:43
Obrigado Marcelo. Ainda hoje farei os ajustes de formatação e publicarei o texto. Se não tomarmos o estandarte das mãos dos "coveiros do carnaval", como dizia Aldir Blanc (se referindo à politicalha burocrata que mina a educação & cultura neste país), vamos perecer no campo de luta. Essa cambada de incompetentes com ridículas justificativas para abastardar ainda mais a língua. Achacada por um sem número de regras confusas como essa tal "padronização", ou ajuste, ou sei lá o que. Uma medida sem pé nem cabeça, que, na prática conseguiu tornar confusa a identificação dos termos e dos sentidos. Visto que verbos e preposições se emaranham por falta de assento, e, temos de adivinhar os tempos verbais via contexto... Isso facilitou a compreensão de textos para aqueles que não tem hábito da leitura? Desconfio que não... Como dizia o velho "Fócrates": "É SODA!"
Alexandre Florez, Cachoeira do Sul, RS 07/06/2011 - 10:42

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  Marcelo Spalding

Marcelo Spalding é professor, escritor com 8 livros individuais, editor de mais de 80 livros e jornalista. É pós-doutor em Escrita Criativa pela PUCRS, doutor em Literatura Comparada pela UFRGS, mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS e formado em Jornalismo e Letras.

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