Em mais algumas poucas semanas — não precisava escrever “poucas”, mas eu preferi escrever — terei concluído o desenvolvimento de minha primeira narrativa longa. Sim, narrativa longa, e já digo que não sei se é romance ou novela, para os amigos é romance, para a teoria da literatura acho que é novela. Para mim não faz diferença alguma.
No ponto em que estou, antes mesmo deste ponto, talvez há muito tempo, tenho pensado em como avaliar essa produção. Já sei que existe um modo padronizado para avaliar a produção textual, mas, sinceramente, nos dias que vivemos, o que menos precisamos são padrões na literatura. A época da produção em série, de bens, de gente, de tudo, passou, de padronização do consumo e da forma não atende mais a diversidade de nosso mundo plural. Quanta riqueza literária foi perdida em mãos de revisores, que desclassificaram textos narrativos por inadequação à forma da produção comercial. Por isso, passo longe, também porque não estou à procura de sucesso comercial.
Mas tenho me perguntado sobre como avaliar essa produção à luz da minha motivação — ou objetivos — para escrever. E minha motivação é me compartilhar, na expectativa que haja um público — mínimo que seja — que tenha algum interesse e proveito com a leitura de meus textos.
Por isso, tenho olhado com um azedume cada vez maior para a revisão que risca uma palavra e põe outra em seu lugar — quando eu escolhi aquela propositalmente —, que corta parágrafos inteiros — fui repetitivo, fui prolixo, conscientemente, assim sou —, que questiona a maneira de escrever, as figuras, o tipo de narrador — esse é meu estilo, esse sou eu —, enfim, com a revisão que, à guisa de corrigir minhas limitações, me limita.
Então monto a seguinte estratégia:
Etapa 1 - Submeto meu texto a alguém experiente que responda apenas se isto tem chance de ser publicável ou não há como salvá-lo do lixo.
Etapa 2 - Se publicável, vamos à procura de um leitor qualificado que possa dar um feed back amador sobre os sentimentos e efeitos que cada capítulo lhe causou, o que o tocou mais, o menos, o insonso, o denso, o enfadonho.
Etapa 3 - Nos limites de minha capacidade de melhorar o texto, faço isso.
Etapa 4 – Passo então à revisão externa da digitação, ortografia, pontuação, concordância, e não muito mais do que isso.
Etapa 5 – Suportar a pressão do editor para mais mudanças, convencendo-o que esse é o texto, alterado seria outro texto.
Se a editora aceitar, ótimo, até serei generoso e incorporo algumas sugestões, mas se, ao final, o editor me disser que a verdade é que eu não quero saber a verdade sobre meu texto, aí a coisa fica feia. E o que é pior, fica feia para mim.
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