Dizem os mais antigos que publicar um livro era o ápice da carreira de um escritor. Hoje, é o começo. Esta mudança, que é positiva na maioria dos aspectos e surge a partir das ferramentas digitais, traz, porém, algumas transformações importantes. E é preciso que nós, escritores, saibamos reconhecê-las e pararmos de repetir os dogmas do antigo jeito de fazer e vender livros.
O mais antigo deles: nosso problema é a distribuição dos livros.
Não!
Claro que a distribuição segue um problema, livrarias não pegam grandes quantidades do seu livro a menos que você seja um bam-bam-bam internacional, não os expõem na vitrine a não ser que você pague, não pagam à vista, são sempre os famigerados consignados. Mas eu diria que hoje o desafio maior não é a distribuição, é a divulgação.
Com a internet, as lojas virtuais, etc, o difícil não é vender seu livro, é fazer alguém se interessar em LER seu livro. Tanto que não adianta dar livros, o segredo é fazer o leitor querer o livro para ler. Aí ele vai procurar na internet, você vai mandar o livro e ele fará questão de pagar por isto. Ou procurar em uma livraria, e se a livraria não tiver o livro, e muitas pessoas começarem a procurá-lo, é a livraria que vai correr atrás de você, não o contrário. A livraria, como a mídia, é ótima para retroalimentar o sucesso, mas raramente ela dá início a esse processo.
Nesse sentido, a maior dificuldade é que as mesmas tecnologias que facilitaram o caminho do livro ao leitor também abriram caminho para que milhares de livros sejam publicados, milhões de textos escritos, criando um oceano de informações e, o que aí sim é triste, em uma sociedade que não valoriza tanto a leitura e a literatura, com índices baixíssimos de livros lidos ou comprados por ano.
Aí novamente a importância da divulgação. Com a divulgação o livro começa a acontecer, e ainda que o autor não ganhe quase nada com a venda do livro, começam a surgir convites para palestras, cursos, textos por encomenda, entrevistas, propostas de trabalho. E tudo isso, aos poucos, vai tornando o ato criativo autossustentável e valorizado.
Enfim, embora muitos subestimem a divulgação, e alguns até a desprezem e se neguem a fazê-la, eis o segredo da chance de sucesso para um livro. Aliás, talvez sempre tenha sido assim, pois quase todos os grandes e famosos autores, de Machado a Erico, passando por Clarice e Caio Fernando Abreu, além de serem ótimos escritores também atuavam na mídia, o que por si só, na época, era uma ótima divulgação.
Então, se eu pudesse dar um conselho a um novo escritor, eu diria: não gaste mais do que o necessário para ter um livro bem editado e com uma tiragem pequena, deixe para investir em DIVULGAÇÃO. Até porque divulgação se faz com tempo e/ou dinheiro.
05/08/2016
Compartilhe
Comentários:
Concordo com todas as suas palavras. A cada dia venho sentindo necessidade de estudar um pouco mais de marketing digital e pessoal para começar a divulgar nas redes sociais um pouco do meu trabalho. GLEISON ELIAS PEREIRA, Jaguaré/ES13/07/2021 - 11:57
Parabéns pelo texto, que infelizmente exprime a realidade cruel do brasileiro. Sem números para comparar, acredito que eram comprados e lidos mais livros há cem anos do que atualmente. Como mudar isso? LADIMIR, canoas rs08/06/2018 - 03:58
O seu texto, Marcelo, é esclarecedor e convincente. Deveria ser publicado em outros locais. Muito obrigado por ajudar. Parabéns! Marcio, São Paulo22/11/2016 - 13:04
Adorei o texto, obrigado Miriam Hildegard gress, Porto Alegre30/08/2016 - 13:14
excelente artigo! direto e objetivo, respondendo a muitas das questões tão prementes nesse novo mundo da autopublicação. Parabéns, Marcelo! paulo, porto alegre/rs30/08/2016 - 11:44
Muito esclarecedor e desmistificador. Jairo Back, PoA30/08/2016 - 10:21
Envie seu comentário
Preencha os campos abaixo.
Marcelo Spalding
Marcelo Spalding é professor, escritor com 8 livros individuais, editor de mais de 80 livros e jornalista. É pós-doutor em Escrita Criativa pela PUCRS, doutor em Literatura Comparada pela UFRGS, mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS e formado em Jornalismo e Letras.
Os comentários são publicados no portal da forma como foram enviados em respeito
ao usuário, não responsabilizando-se o AG ou o autor pelo teor dos comentários
nem pela sua correção linguística.