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Literatura

Diversidade Linguística no Brasil
Scyla Bertoja

Fiquei sabendo que no Brasil temos aproximadamente duzentas línguas faladas e que em tempos passados já possuímos mais de mil. O Grupo de Trabalho da Diversidade Linguística do Brasil está elaborando uma emenda à Constituição visando proteger e reconhecer oficialmente essas línguas. Foram à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados/RS, recentemente, para fazer a apresentação dos resultados das pesquisas. A matéria completa foi veiculada pelo Informativo Oriundi. Felizmente anotei dados para meus arquivos. Queria escrever algo sobre esse argumento.

A filologia é matéria que me fascina. Fico muito sensível sempre que o assunto é alguma discussão sobre idiomas. Sou plenamente favorável a que sejam providenciadas salvaguardas para a preservação desta riqueza, protegendo da extinção as línguas indígenas, bem como os idiomas dos povos que, há séculos aqui aportaram e que, junto àqueles que aqui já se encontravam, ajudaram a fazer a grandeza desta terra. Parece incrível que houve tempos em que os grupos tinham de esconder o fato de possuírem esses conhecimentos, ou seja, não lhes era permitido falar e ensinar aos filhos os seus idiomas e dialetos. A que ponto chega o homem quando tem o poder de mando, para subjugar outros grupos humanos e impor seus valores, quando não existem direitos. Felizmente, agora se respira um clima de liberdade. Não há uma guerra mundial.

No entanto, quando li esse artigo, imediatamente lembrei de outra matéria, veiculada em 15/12/2007, pelo jornal Zero Hora p 51 (Educação). A manchete era: “Expressões estrangeiras podem ser banidas”. Poderão ser, segundo a matéria, substituídas por termos em português, aportuguesados, ou neologismos. Minha opinião, que ninguém pediu, é de que não há necessidade de se proibir termos estrangeiros que incorporamos à nossa língua. Os galicismos sempre estiveram presentes em nossos textos e discursos, agregando-lhes até, a meu ver, certo charme. Usar uma que outra palavra ou expressão estrangeira não significa que não tenhamos em nosso dicionário um termo que os equivalha. Esse hábito que muitos de nós cultivamos é puramente estético, estilístico. Não significa que estejamos nos rendendo a um vocabulário estrangeiro e voltando a ser colônia. Em um país formado por tantas etnias com suas culturas próprias, incluindo línguas e dialetos, proibir o uso de estrangeirismos, é, no mínimo, uma atitude incongruente, além do que, seria de difícil aplicação. Todos os idiomas utilizam alguns termos ou expressões estrangeiras. Nos negócios, em certos setores, é quase impossível dispensá-los. Na moda e na gastronomia acontece a mesma coisa. Não há mais perigo de que alguém vá impor ao Brasil um outro idioma. Esse purismo me parece exagerado. Que dizer dos termos usados para nomear e explicar as funções de componentes eletrônicos? Ou nos manuais de informática? Haverá tempo para fazermos traduções? A dinâmica do setor exporia à obsolescência o termo antes mesmo de ser colocado no dicionário. Em poucos meses, ou até dias, computadores são substituídos por outros mais avançados. Tudo tem vida curta, até mesmo expressões do nosso idioma. Mal começam a ser utilizadas e em pouco tempo são substituídas ou trocadas por termos constantes de um jornal da moda, copiadas dos discursos de nossos políticos ou âncoras de TV, e até mesmo das falas da novela das oito.

Penso que ao invés de garimpar estrangeirismos afetados presentes em nossos textos os legisladores deveriam preocupar-se com o grande número de alunos das escolas de primeiro grau que terminam essa fase de seu aprendizado sem saber interpretar um texto, sem ter lido um livro, sem saber escrever uma redação. Isso não é mais grave do que a palavrinha fashion aparecendo de repente no jornal, no rádio, na TV e nos discursos populares?

Posso estar errada, mas é assim que penso. Por esse motivo quis trazer ao conhecimento de quem porventura leia as minhas crônicas, a comparação entre as duas atitudes: A que visa proteger todas as línguas faladas no Brasil – louvável -, e a que fica procurando banir termos estrangeiros infiltradas em nosso idioma – desnecessária.


06/05/2011

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Comentários:

Parece-me que querem colocar a língua Portuguesa como sendo o único caminho parase proteger a cultura e ordem no país. Não é o uso de estrangeirismos que vai fazer com que os cidadãos percam o apreço pelo Brasil, tampouco deve ser visto como invasão que comprometa o idioma, mas um enriquecimento cultural. O que o desnacionaliza é a falta de estrutura educacional, apoio à pesquisa, boa remuneração aos Professores...Segundo POSSENTI (apud Faraco, 2001, p.168) 'para proteger nossa língua temos que tornar nossa economia poderosa e nossa cultura tão charmosa que nenhuma outra nos tente(...)' Aplaudo tua colocação. Parabéns,Scylinha ! zaira cantarelli, porto alegre,rs
zaira cantarelli, porto alegre,rs 25/05/2011 - 22:33
Parabéns pela lucidez do texto. Muito reflexivo e esclarecedor. O Brasil necesita "aprender a aprender" antes de boicotar. Sou partidário da aprendizagem e da preservação de todas as línguas faladas no brasil, em seus respectivos grupos e que haja difusão e oficialidade destes idiomas no país.
Paulo de Freitas Mendonça, Porto Alegre RS 18/05/2011 - 15:15
ATALHO Numa estrada erma Encontra-se um velho atalho Cujos calos se escondem Sob a poeira que o vento deixou. (AGAMENON TROYAN)
CARLOS ROBERTO DE SOUZA, MACHADO-MG 17/05/2011 - 13:41
Scyla,mais uma vez demonstras muita lucidez para analisar um tema que, por incrível que possa parecer, ainda traz desnecessárias controvérsias. Este ponto de vista deslocado, de que devemos lutar como um exército contra os estrangeirismos, desvia, no fundo, da questão principal que é fornecer uma educação de conteúdo, estimular a cultura em geral, a leitura, o pensamento, o surgimento de novas e boas idéias. Meus parabéns pelo que expuseste de forma tão brilhante.
Ise Mara Silveira, Porto Alegre/RS 10/05/2011 - 13:06
Scyla, hoje todos pensam estar descobrindo a América, não estão, ela já estava descoberta e relativamente povoada, antes de 1492 (Colombo) e 1500 (Cabral). E, desde então, viemos fazendo modificações e agregando povos, raças, idiomas, comidas, canções e no bojo estão as línguas, que transmitem os sentimentos daqueles que as utilizam. As leis serão inócuas, porque não vão conseguir penetrar "lá no fundinho" de cada um e transformar àquela massa que todos temos e onde misturamos, juntamos, mesclamos tudo o que nos acontece e devolvemos em forma de palavra. Não critico nada, quero sim - muita expressão e criatividade, isso é o que importa. Parabéns pela crônica.
Rosy T. Paniz, São Vicente - SP 07/05/2011 - 17:51
Scyla, além de concordar contigo, adoro ler os teus textos, sempre primando pela clareza, pelo bom gosto na escolha das palavras. Obrigada pela referência ao Oriundi. Um afetuoso abraço.
Cláudia Rejane Turelly do Carmo, Viamão 06/05/2011 - 15:30
Oi, Scyla, que satisfação te ler nesta página exclusiva dos artistas gaúchos que só costuma acolher "gente boa". Belo estudo e argumentação. Concordo contigo. Tem gente que faz cara feia com estrangeirismos, censura teus "sites" e até teus "s"pensando que deletar é palavra aportuguesada. A Marta Medeiros dia desses escreveu uma crônica que me fez mal só de ler os mal ditos (e malditos) pecados da língua materna que residem no palavrear do povo. Estes sim, devem ser banidos pela educação que vem deixando a desejar. Parabéns!
Jacira Fagundes, Porto Alegre 06/05/2011 - 11:13

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