Trazemos aqui hoje para reflexão dos leitores as releituras literárias para as crianças. Sabemos que existem livros ditos para adultos ou jovens que possam trazer um novo olhar sobre o mesmo tema discutido. Sobre esse método ou essa vertente não creio que haja maiores problemas, pois não se trata de plágio, mas um novo olhar, uma nova forma de ver o mesmo assunto. Dessa forma, assassinatos, abandonos, traição, rebeldia e assim por diante, são contados e recontados de diferentes jeitos, estilos e formas. As histórias de vampiros que digam!
Mas tudo isso pode ser um fator agregador no que diz respeito à reflexão sobre um determinado tema, pois leva o leitor a discutir as diferentes possibilidades sobre um assunto. Porém, o que acontece quando temos essa prática na literatura infantil? Lá na base, onde estamos formando leitores e cidadãos aptos a refletir sobre o mundo que o cerca?
Em cima desse fato abordaremos hoje, já que estamos no mês em que se comemora a consciência negra (20/11), duas obras infantis que chegaram às escolas através do programa FNDE (Fundo Nacionalde Desenvolvimento da Educação)- PNBE (Programa NacionalBiblioteca da Escola), Ministério da Educação e que abordam discriminação racial: A ovelha Negra da Rita, Silvana de Menezes e Nerina – a ovelha negra, Michele Iacocca, Edições MMM e Editora Ática, respectivamente. Duas obras sem palavras. Duas obras somente de imagens. Dois livros que induzem os leitores mirins a refletirem acerca da discriminação e da socialização entre os seres. Trazendo o chavão “ovelha negra”, ambas as obras fazem uma releitura sobre essa expressão tão carregada de preconceito e, através das singelas ilustrações, o leitor mirim percebe que a solidariedade deve prevalecer ao medo e ao preconceito. Obviamente, que nesses casos de releituras, devemos ter muita atenção, para que o efeito não seja o contrário e, assim, dar ao leitor a impressão de que a discriminação racial ainda é vista como algo em que a literatura infantil consegue tratar apenas através de expressões estigmatizadas como as ovelhas negras, alvos de perseguições e desprezo numa sociedade. Por isso, há que se ter um trabalho delicado nesse momento por parte do adulto que conduzirá essa leitura de imagens.
Deixamos aqui um convite para a leitura visual dessas duas obras que, certamente, tocarão os corações dos pequenos e dos maiores leitores.
Por fim, fica a mensagem de que uma releitura pode ser feita sem palavras, mas com sentimento, sem se tornar aborrecida, ou cansativa, mas mostrar que podemos enxergar além do apenas ver.
18/11/2015
Compartilhe
Comentários:
Envie seu comentário
Preencha os campos abaixo.
Cláudia de Villar
Cláudia Oliveira de Villar é natural de Porto Alegre/RS e atua desde 2000 como professora de séries iniciais do ensino fundamental em escola pública estadual. Possui doze livros publicados, sendo dez para o público infanto-juvenil e dois para adultos: Eu também... (Alcance, 2005, infantil), Bola, sacola e escola (Manas, 2009, infantil), Zé Trelelé no Gre-Nal (Manas, 2010, infantil), Uma foca na Copa (Manas, 2010, infantil), Meu Primeiro Amor (Manas, 2011, infantil), Aprendendo a viver e ensinando a sonhar (Manas, 2012, adulto), Rambo, um peixe no fandango (Manas, 2013, infantojuvenil), Mano e a boneca de pano (Manas, 2013, infanto-juvenil, O Mistério do Vento Negro, volumes I e II(Imprensa Livre, 2014-2015, juvenil), Um Continho de Natal(Metamorfose, 2016) e o lançamento de 2018: Histórias para ler no Intervalo ( Metamorfose, 2018). Participou de três antologias, Brasil Poeta (Alcance, 2005), Casa do Poeta Rio-Grandense (Alcance, 2005) e Mercopoema (Alcance, 2005) e uma coletânea de contos, Metamorfoses (Metamorfose, 2016). Além do curso de Magistério, Cláudia é graduada em Letras, especialista em Pedagogia Gestora e Supervisão Escolar. Atua no meio educacional também como mediadora de leitura e, como jornalista colaboradora, a escritora é colunista do Jornal de Viamão/RS, bem como escreve para o portal Artistas Gaúchos, Homo Literatus e Almanaque Literário.
Os comentários são publicados no portal da forma como foram enviados em respeito
ao usuário, não responsabilizando-se o AG ou o autor pelo teor dos comentários
nem pela sua correção linguística.