As páginas narradas por Dado Villa-Lobos são combustível para os fãs dos legionários. Pela primeira vez, um integrante da banda Legião Urbana registra suas memórias em um livro. Precisão e razão marcam os relatos e revivem a admiração pelo pacato guitarrista da banda de rock que mais vendeu discos no Brasil. A obra quebra o silêncio e é uma resposta ao conflito que mina a liberdade dos integrantes da Legião. Dado relatao já conhecido entrave entre os integrantes da Legião com o herdeiro de Renato Russo, que possui todos os direitos da marca Legião Urbana. A disputa não dói só na alma de Dado mas também no espírito do leitor, apesar de aparentemente resolvida.
Desde o cenário underground, passando pelas criações, gravações, shows e pelo relacionamento entre seus integrantes, o livro é um documento histórico importante para o cenário musical brasileiro.Devido ao acervo organizado pelaprimeira empresária da Legião Urbana,Fernanda, também mulher de Dado, e do apoio dos historiadores Felipe Demier e Romulo Mattos, o livro mostraa essência de seus integrantes no contexto dos anos de 1982 a 1996. E eles são deliciosamente complicados e imperfeitos. Está tudo ali, as brigas, os bons e os maus momentos.
Mas o livro é também sobre a vida de Dado Villa-Lobos e vai além dos anos da Legião. A influência por ser filho de diplomata fica marcante quando ele cita os nomes de seus amigos com todos os nomes e sobrenomes de seus pais, seguidos dos cargos que ocupavam. A personalidade pacata do guitarrista é evidente no enfrentamento dos conflitos e na amizade com Rento Russo. Mesmo furiosos, cansados e estressados, mantiveram sempre o respeito. A união da genialidade do Renato, da segurança de Dado e da tempestividade de Bonfá são contadas com extrema sinceridade e humildade. E essa á a prova que o livro dá, de que a Legião não foi só de Renato Russo, apesar de girar em torno de sua personalidade. Está explicito nas ações, criações e atitude de todos aqueles anos de convivência que a Legião Urbana só existiu devido à parceria de seus integrantes.
Os momentos políticos e econômicos enfrentados pelo país afetaram diretamente a vida dos legionários. Dado conta que o plano Collor revoltou a todos,quando pela primeira vez tinham juntado algum dinheiro na vida. Esta perda financeira os estimulou a batalharempor toda a grana de volta por meio de shows e gravações.A crise afetou também as gravadoras, o que impactou algumas decisões da banda.Porém, o início da abertura política e fim da ditadura militar que coexistiram com a Legião são ainda mais importantes para a formação e contextualização de sua existência.
Quando a banda acabou, com a morte de Renato Russo aos 36, Dado tinha apenas 32 anos. E parece muito pouco e muito precoce. Foram anos vividos com muita intensidade e de grandes momentos. O músico termina o livro com a frase “não foi tempo perdido” e todos os capítulos são intitulados com trechos das músicas da Legião Urbana que de tão populares tornaram-se clichês. Uma homenagem e uma constatação de que todas elas estão vivas nas mentes de toda essa geração e legião de fãs.
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