Uma das queixas mais comuns que ouvimos de quem trabalha com cultura é a falta de interesse do público. Ninguém lê os autores locais, ninguém prestigia os músicos novos, ninguém compra obras de arte de artistas gaúchos, é tudo uma panelinha, o mercado está cheio desses lixos importados, etc, etc, etc.
Em parte, todas essas afirmações são verdadeiras: nunca houve uma concentração tão grande do faturamento cultural (inclusive das verbas de leis de incentivo) e em mercados como o editorial a invasão estrangeira não tem precedentes. Entretanto, é preciso que cada um de nós, como artistas, saibamos olhar para nosso próprio trabalho e pensar no que poderíamos fazer em relação a isso. Será que devemos mudar de profissão, hobbie ou paixão?
Com certeza, não é a única saída. Até porque diversos artistas gaúchos trabalharam durante anos até atingirem um reconhecimento fantástico, que deve estar rendendo também dividendos, como Werner Schünemann, Airton Ortiz, Letícia Wierzchowski, Jair Kobe, Daniel Galera, Fabrício Carpinejar, Peninha, Yamandu Costa. E outros tantos vivem de sua arte, ainda que não sejam tão populares, como Deborah Finocchiaro, Cintia Moscovich, Mario Pirata, Marcelo Caminha, Elisa Lucas, Clara Pechansky, Zupo, Isabel de Castro...
Uma das primeiras providências que se precisa tomar para fazer com que nossa arte seja mais conhecida é compreender que somos nós os responsáveis pela sua divulgação e propagação. Por mais que você tenha publicado um livro por uma editora ou seu espetáculo faça parte de algum festival, não adianta esperar que outro faça pelo seu trabalho aquilo que você faria melhor, até porque editoras têm dezenas (ou centenas) de livros para divulgar, festivais lidam com diversos espetáculos, alguns vindos inclusive do exterior.
Você dirá que é um artista, não um vendedor, não um marqueteiro. Mas talvez aí que esteja a primeira barreira a ser quebrada: marketing não é palavrão. Para que uma obra tenha chance de sucesso, hoje, é preciso que ela seja muito bem feita esteticamente E TAMBÉM tenha algum apelo comercial. E não sei se era muito diferente anos atrás, ou se nós é que romanceamos o passado.
Note que não adianta nada você ser muito bom em marketing mas seu livro, filme, escultura ou peça de teatro ser ruim. Já diria um sábio, “ninguém engana muita gente por muito tempo”. Mas também não adianta sua obra ser maravilhosa se não consegue atrair público, aí nem o famoso boca a boca funciona.
Assim, é cada vez mais importante que nós, artistas, sejamos ou não dedicados apenas à nossa arte, tenhamos profissionalismo para lidar com ela. Isso não significa que devamos sacrificar nosso conteúdo, nosso objetivo: talvez você escreva para mudar o mundo, não esteja preocupado com o retorno financeiro, mas ainda assim para que seu livro tenha algum impacto você precisa de público. O artista vive do seu público, seja qual for seu objetivo com a arte.
Ter profissionalismo, nesse contexto, é entender que estamos inseridos em um mercado, em uma economia que gira milhões e que tem enormes desafios, mas muitas oportunidades. Ter profissionalismo é reconhecer nosso trabalho como um produto, agregar valor a ele, saber identificar os gargalos, investir e reinvestir para torná-lo cada vez mais conhecido.
Alguns realmente preferem deixar que profissionais mais especializados, como produtores, assessores de imprensa, etc, façam parte desse trabalho para si. Mesmo assim, é fundamental que nesse caso o artista haja como líder de uma equipe, envolva-se no planejamento e na divulgação de seu trabalho e de seu nome. Afinal, não custa lembrar nesse texto tão cheio de inevitáveis clichês do marketing, nessa área o nosso nome é a nossa marca.
29/05/2015
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Comentários:
Não, Marcelo. Não existem apenas os "autores importados" como pedras no caminho dos autores nacionais, especificamente, dos gaúchos.
Aqui dentro, temos alguns impedimentos, sabe, as ditas"panelinhas". São os programas de governo - acho que não preciso citar, são vários - que não abrem espaço para gente fora de seu "cartel". No meu caso, por exemplo, dou palestras, participo de feiras, visito escolas, e algum programa dos que estão aà me abrem espaço? Para outros tantos escritores dá-se o mesmo: portas fechadas. Jacira Fagundes, Porto Alegre/RS09/06/2015 - 10:50
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