"Não me sentiria um escritor sem ter o meu nome impresso numa capa"
Mauro Paz é acima de tudo, um escritor. Fez Letras e trabalha como redator publicitário, foi um dos pioneiros da literatura digital, mas em tudo que faz está a marca do escritor, daquele que escreve por necessidade, como conta nesta bela entrevista. Além disso, Mauro é um dos bons exemplos de autores iniciantes que encontraram em algum concurso a oportunidade de publicar seu primeiro livro impresso.
Como e quando surgiu a vontade de ser escritor?
A vontade de ser escritor me acompanha desde pequeno, pois o meu pai teve uma editora. Com sete anos, uma das minhas brincadeiras preferidas era dobrar papel e fazer livros, praticamente zines. Porém, se eu fosse delimitar um marco para a minha carreira de escritor, pontuaria o momento em que tive uma necessidade urgente de escrever. Em 2004, tive um término de namoro bem difÃcil e somado a isso recebi a notÃcia de que uma amiga de infância havia virado garota de programa e foi assassinada pelo namorado/cafetão. Esse duplo choque de realidade (o fim do relacionamento e a morte da amiga) me movimentou com uma vontade imensa de escrever sobre temas que despertassem a compaixão.
Antes de publicar livros, você iniciou publicando em sites, inclusive o projeto pioneiro do Desfocado. Como surgiu a ideia de publicar pela internet?
A ideia de publicar na internet surgiu com os acontecimentos acima. Eu precisava escrever. Falar sobre o que pensava. Precisava tentar fazer com que as pessoas se conectassem com sentimentos diferentes dos quais elas convivem todo dia. Nesse cenário, publicar na internet fazia todo sentido, pois é um processo ágil e de fácil distribuição.
E por que você sentiu a necessidade da publicação em livro?
Mesmo tendo um público já consolidado na internet, publicar um livro, para mim, foi uma confirmação da escolha de ser um escritor. Aprendi a ler em livros impressos. Tenho uma relação muito forte com eles. Pode parecer antiquado, mas não me sentiria um escritor sem ter o meu nome impresso numa capa.
Você poderia fazer uma comparação da repercussão de suas publicações online e impressa?
A publicação on-line tem uma distribuição mais fácil e o retorno dos leitores é imediato. A publicação impressa também traz retornos dos leitores, mas são mais espaçados. Publicar um livro impresso hoje é fácil. Agora ser publicado por uma boa editora, chegar nas principais livrarias e ter relevância de venda é outro papo. Para vender o autor precisa ser conhecido e a internet é uma ótima aliada nessa missão.
Você teve um livro contemplado num concurso do IEL. Como foi a decisão de optar pelo envio a algum concurso ao invés de bancar a edição ou enviar a uma editora tradicional?
Optei por não pagar a publicação do meu livro, pois acreditava e acredito que ter o respaldo de uma instituição respeitável seria um passo importante para a minha carreira de escritor. Um começar com o pé direito. Não seria só mais um livro na estante, seria um livro que passou pelas mãos de bons leitores e que optaram pela sua publicação.
Como tem sido a divulgação e distribuição do livro publicado pelo IEL?
O IEL faz um ótimo trabalho dentro do Rio Grande do Sul. Além de notas nos principais jornais, houve divulgação de trecho do livro na Rádio Cultura, Revista Vox e nas redes sociais. Quanto à distribuição, sinto falta de o livro chegar às grandes livrarias como a Saraiva e Cultura. Muitas das livrarias menores, eu mesmo distribui, principalmente em São Paulo. Apesar disso, não tenho do que reclamar. Ano passado fui ao IEL e descobri que meu livro estava praticamente esgotado.
Antes de participar desse concurso, você havia enviado originais de seu livro para alguma editora? Quais? Como foi a receptividade?
Enviei para algumas editoras de Porto Alegre e para as grandes de São Paulo. Recebi poucas respostas. Sempre educadas, mas nenhuma positiva para a publicação. Em geral as grandes querem livros com garantia de venda. Um livro de contos de um autor estreante e que trata de temas desconfortáveis como incesto e sexo entre crianças não tem garantia nenhuma. Bem pelo contrário.
O fato de você ter livros publicados de alguma forma contribui com sua carreira profissional como redator publicitário?
Sinceramente, não. O mercado publicitário é egocêntrico na sua essência. Mais importante do que eu escrever um livro de ficção com 100 páginas, para o mercado, é eu escrever um roteiro de meia página para um filme de 30 segundos que vende margarina. É claro que os colegas de agência apreciam, leem, divulgam o trabalho, porém acredito que o fato de eu ter um livro publicado nunca me ajudou a entrar em uma vaga de redator. Ainda são gêneros muito diferentes, embora cada vez mais as marcas invistam em conteúdo.
O fato de você morar em São Paulo ajuda na sua carreira literária? De que forma?
São Paulo é centro dos acontecimentos do Brasil. Morar aqui facilita eu estar em contato com outras pessoas que produzem coisas bacanas, em qualquer canto do Brasil. Essa eu acredito ser a maior contribuição da cidade para a minha carreira de escritor. Sem estar aqui, jamais teria conhecido, por exemplo, o Tiago Morales, com quem estou terminando o meu próximo livro de contos que mostra, com histórias independentes, 24 horas nessa capital.
Como funciona a divulgação dos seus livros e de seu trabalho?
A internet tem um papel fundamental. Através do Facebook, Twitter e Blog que me mantenho em contato com os meus leitores. Assim, quando lanço um projeto, são nesses meios que faço a primeira divulgação. Depois entram blogues de terceiros, sites especializados, jornais, etc. Além disso, tento ver cada projeto como um produto que o Mauro publicitário precisa vender.
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