“É muito difícil ser escritor no Brasil” é uma frase que já escutei mais de mil vezes. E é pura verdade. Mas não absoluta. Acontece que quem fala isso nem sempre é realmente um “escritor”, mas alguém que pretende ser (ou pensa que pretende ser). Como uma criança querendo aprender a andar de bicicleta: ela quer saber andar, mas não aprender, porque o processo de aprendizagem é doloroso; inclui quedas, arranhões, esparadrapos e alguns roxos pelo menos.
Escrever não é diferente. A pessoa precisa passar por um processo com arranhões e quedas. Precisa saber que o livro é um bem intelectual, mas que custa dinheiro, e se o editor não tiver retorno ele vai falir (o risco é grande). Então as editoras estão certas em não publicar qualquer coisa – para o bem delas e do próprio autor.
Os editores, na maioria dos casos, são profissionais, mas grande número de escritores, não. Pelos muitos que conheço – pretensos escritores e ditos editores – estes arriscam muito; aqueles, pouco. O cara quer ser escritor, mas primeiro quer passar num concurso público; então, escreve meia hora e fica seis estudando para o concurso do TRT. Até aí tudo bem, desde que não fique culpando as editoras por não quererem publicar a sua obra-prima.
É possível ser funcionário público e escritor? Claro que sim. A pessoa pode ser empresário, trabalhador avulso, funcionário público etc, etc e escritor. A nossa literatura está cheia de exemplos: Scliar, Drummond, Antonio Carlos Resende, Rubem Fonseca. Jornalista, advogado, médico, juiz, delegado. Não importa qual a outra atividade, e sim o que a pessoa realmente escreve e o que ela realmente lê.
Mas se você é "um jovem, passando fome, bebendo e tentando ser escritor” como declarou Charles Bukowski, falando de John Fante, o mínimo que você tem de fazer é ler e escrever. Começando por esses dois, voltando para os clássicos, avançando para o Sérgio Sant’Anna, voltando, avançando, estudando, escrevendo, sem parar.
Muitas vezes o que a gente (que quer ser escritor) precisa não é de um editor, mas de um tapa na cara. Ao menos foi o que aconteceu comigo. Há mais de vinte anos, eu estava tomando um café com um amigo escritor e, desoladamente, reclamei para ele: “as editoras brasileiras são muito incompetentes: mandei um livro para tal editor há mais de seis meses e até agora não tive resposta”. O meu amigo perguntou-me: “quantos livros para quantos editores?” Respondi: “um livro para tal editor.” Ele, sem pestanejar, me disse: “então o incompetente é tu”.
Foi um verdadeiro tapa na cara. Na hora não entendi e não aceitei. Mas com o tempo compreendi que aquela foi a maior ajuda que alguém poderia ter me dado: tirar um pouco a culpa das editoras e tentar ver o quanto eu merecia realmente ser publicado. É difícil ser publicado? É. E bem publicado mais difícil ainda. Mas às vezes precisamos mais de um tapa do que um “Aprovado para publicação”.
Bah! fecho contigo totalmente, Sérgio. Vitimismo é o tipo de argumento que não leva ninguém além do buraco ou da simples inércia.
Maurem Kayna, Guaíba - RS 14/04/2014 - 15:32
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