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Literatura

Devaneios e saudades na feira do livro
Lucio Saretta

Agora que terminou a 29ª Feira do Livro de Caxias do Sul, gostaria de trazer à tona algumas reminiscências do que eu vi e vivi durante o evento. Caminhando sobre as pedras coloridas da praça Dante Alighieri, entre os bancos e barracas de madeira, logo senti de volta a alegria típica que cerca o encontro do povo com o mundo misterioso  da literatura. Desde a criança até a vovó, todos queriam ver, tocar e aproveitar esse sonho passageiro, mas real, onde a imaginação e as palavras reinam absolutas. De repente, vislumbro as figuras inconfundíveis de Luis Narval e Maikel de Abreu conversando próximos à cerca de um canteiro e de uma poça d’água. Como sempre, tivemos dias chuvosos nessa Feira. Intrometo-me no colóquio dos distintos colegas escritores, procurando encontrar um sentido e um rumo a seguir na epopeia literária em que estamos perdidos.

Para o escritor, de uma certa forma é vedado o prazer tão singelo de passear entre as bancas mansamente, como fazem as pessoas que não tem livros publicados. Pelo contrário, a preocupação de verificar se os nossos livros estão expostos de forma visível nas estantes acaba sendo um fardo. Oh, como eu gostaria de apenas folhear e mergulhar nas páginas dos volumes que se oferecem à investigação meticulosa e profunda! Mas não, meu dever é fiscalizar, como um inquisidor cruel, onde e como estão as minhas obras. Para piorar, o mau-humor de alguns livreiros é evidente, evitando o contato com o escritor até o último instante, desviando o olhar cinicamente, como se ele fosse uma espécie de leproso ou tarado. Dentro de um ramo onde a emoção e o lirismo são o combustível necessário para a criação, encontramos situações onde as relações são travadas de forma fria e ignóbil, e onde as pessoas são tratadas com desdém, contrariando um pouco a lógica de que, no fim, somos todos  seres humanos. Por outro lado, esse cenário de desencanto e desencontro também serve de tema para a literatura, então parece que é um ciclo que se fecha.

Tais devaneios tomam conta da minha mente enquanto ando devagar pelos corredores da Feira. Digo olá à Angela Broilo e cumprimento Leandro Angonese, mas seria impossível relacionar todos os poetas e artistas que circulam em profusão pelo ambiente cinza do final de tarde. E como esquecer a palestra do baiano Antônio Torres, um dos monstros sagrados da nossa literatura? Mediado pelo cronista Tiago Marcon, o bate-papo terminou da forma mais agradável possível, com Antônio autografando suas obras e brindando a todos com sua experiência e sabedoria. Nessa Feira, ainda, tive a alegria de lançar meu novo livro, “Lições da Barbearia”, e rever amigos e colegas há muito tempo distantes. 

A partir de agora, tudo é saudade. A imensa planície que se abre diante dos meus olhos, repleta de novos desafios e compromissos, hei de percorrer, até que venha a Feira do Livro do próximo ano, com seus paradoxos de fantasia e ilusão surgindo como um oásis no deserto.


17/10/2013

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Comentários:

Caro Sergio, Obrigado pelo comentário. É claro que eu dramatizei um pouco o texto, e, além do mais, cada escritor tem um jeito diferente de lidar com essa questão. Uma vez a coisa era um pouco diferente, até acho que foi o Guimarães Rosa que disse que o o papel do escritor deveria ser "apenas" e tão somente escrever, as demais questões comerciais e de distribuição não deveriam ser da sua alçada.Infelizmente em nosso país, hoje em dia, parece que escrever é a parte mais fácil da história... Um abraço fraterno.
Lúcio H Saretta, Caxias do Sul 22/11/2013 - 09:35
Caro amigo Lúcio- se é que posso chamá-lo. Editei meu livro "Premissas, uma análise sensata e objetiva sobre o espiritualismo" e é a minha estréia no mundo das letras e no universo dos escritores. Li seu texto antes de iniciar aqui a nossa feira do Livro nº59 e tomei o cuidado de não incomodar a menina que atendia na banca onde estava o meu livro exposto, e nem sequer perguntei, até hoje, quantos livros foram comercializados. Pedi que amigos e parentes olhassem na banca se o livro esta bem a mostra, e estava. Tudo isto porque li o seu texto, do contrário poderia eu ter protagonizado um sorriso amarelo ou algum comentário nada simpático por parte de quem estava na banca. Será? Um abraço. Sergio Clos
Sergio Clos, Porto Alegre 21/11/2013 - 17:37

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