Segundo a revista Super Interessante, pesquisadores do Karolinska Institutet, na Suécia, analisaram cerca de 1,2 milhão de históricos de pacientes e familiares para chegar a uma conclusão que em todo parece óbvia: pessoas criativas não são lá muito normais. Escritores, por exemplo, apresentam tendência maior a sofrer de esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão, transtorno de ansiedade e abuso de drogas. Essa não é a pior notícia. Penso que se as propensões forem cumulativas, estou em maus lençóis: escrevo, sou músico e publicitário... Pois é, não me apresente para sua filha.
Seguindo a leitura da reportagem, talvez em busca de alento ou cura, notei que os cientistas – eles também no grupo de risco – não chegaram a nenhuma conclusão sobre se a atividade criativa enlouquece a gente, ou se são os loucos que procuram trabalhar com isso. Tipo aquele teorema do Tostines (pensado por um publicitário, cabe registrar): é doente porque é criativo, ou é criativo porque é doente? Outra dúvida que não encontrei resposta no texto: existe ex-criativo? Tipo “aquela menina era muito criativa, mas, ainda bem, agora trabalha num cartório”. Há centro de reabilitação para sonhadores delirantes?
Adoro pesquisas. Sobretudo aquelas em que se investe tempo, conhecimento, energia e dinheiro para comprovar as coisas. Simplesmente ser é sempre pouco: são necessárias provas, testes, estatísticas. Gosto muito de saber, também, que nada é batata: é uma média, uma expectativa, uma tendência. Eis a rota de fuga: escritores tendem a desenvolver (ou possuir) aqueles problemas todos. Eu? Não, claro... Estou confortavelmente instalado na exceção que confirma a regra. Por falar nisso, como é mesmo o nome da sua filha?
Opino: escolher por livre e espontânea vontade trabalhar com o que ainda não existe não pode ser normal. A originalidade, o incomum e o improviso demandam uma tendência incurável (e congênita) de transitar fora dos padrões estabelecidos. Visitar outras dimensões. Dar voz aos demônios internos, esses anjos tortos que tantos “saudavelmente” aprisionam. Perder o chão e conviver com a vertigem. Então, quando os pedacinhos de pão que se deixa como pistas para sair da floresta sumirem por algum motivo, morrer tragicamente.
Porém, tão alentador como lembrar que temos engenheiros competentes ao cruzar a ponte ou cirurgiões brilhantes para cortar nossos tecidos, é a sociedade recordar que há artistas para dar notícias lá de fora da margem, para além do conhecido. São pessoas que precisam de tratamento? Talvez. Que tal começar os tratando com respeito?
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