Já virou um bordão, mais do que um clichê: quando um espetáculo, uma música ou um livro para crianças é muito bom ele rompe as barreiras etárias e emociona também pais, tios, avós, professores, convertendo-se em não apenas numa obra para crianças, mas num espetáculo, música ou livro para todos, como qualquer bom espetáculo, música ou livro.
Canto de Cravo e Rosa, espetáculo infantil que recém fechou temporada no Teatro de Câmara Túlio Piva, é mais um bom exemplo disso. Viviane Juguero, a dramaturga, e Jessé Oliveira, o diretor, conseguem mesclar cantigas, música popular brasileira e muita acrobacia com uma narrativa instigante e universal, usando como mote as intrigas de uma aranha para separar o Cravo e a Rosa de seu jardim por invejar suas belas vozes.
O texto não subestima as crianças, sem medo de ser triste, de usar palavras "difíceis", de recorrer a monólogos e trocadilhos, e também não evita fechar com uma "moral da história", valorizando a diversidade como muito mais importante que a fama ou o talento individual. Mas é no intertexto com cantigas populares como "O Sapo não lava o pé", "Marcha Soldado", "Ciranda Cirandinha", "Escravos de Jó", "Mulher Rendeira" e, claro, "O Cravo brigou com a Rosa", que se controi a narrativa, e o grande acerto de Viviane foi costurar música e narrativa de forma que ambos se completem e levem a história adiante, sem referências forçadas nem prejuízo para o interessante conflito que se desenha em cena.
No palco, uma enorme teia de aranha, muitos instrumentos musicais e cores quentes ajudam a compor o cenário do jardim enquanto os atores entram com figurinos divertidos e versáteis, explorando cada um sua melhor qualidade, seja o salto do sapo ou a voz da rosa. E já na primeira cena um movimento dos atores forma uma minhoca de muitas pernas e evidencia que estamos diante de uma peça que vai muito além da encenação, exigindo esforço físico e disposição dos atores/músicos/acrobatas (foto abaixo).
Tal disposição se evidencia nos inúmeros movimentos acrobáticos (alguns memoráveis, como a cena em que a aranha foge do sapo ou quando o sapo dorme), e tem na versátil Ana Cláudia Bernarecki um símbolo: primeiro porque, como aranha, ela passa boa parte do tempo pendurada nas teias do fundo do cenário; segundo pela força que mostra ao carregar o pesado Cravo nas costas de um lado para o outro do palco; e terceiro quando no final ainda mostra habilidades de equilibrista ao atravessar o palco há uns 3 metros de altura, sob o ruflar dos tambores e os olhinhos atentos do público.
Falando em público, é de salientar que a trupe consiga prender a atenção e agradar crianças de todas as idades, talvez muito pela sua versatilidade. E também seus pais, é claro, pela nostalgia das canções que todos ouvimos na infância (a interpretação de Viviane para "Peixe Vivo" é sublime àquela altura da narrativa), pela qualidade da encenação e pelos surpreendentes movimentos circenses.
Além de Ana Cláudia Bernarecki e Viviane Juguero, o elenco traz Diego Neimar, Ed Rosa, Ravena Dutra e Rodrigo Marques. Além de violão, bumbo, cavaquinho, trompete, flauta, tambor...
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