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Literatura

O centenário da morte de Machado de Assis
Pedro Stiehl

Neste ano em que se comemora os 100 da morte de Machado de Assis, não é muito simples dizer algo novo sobre o escritor que é considerado o único clássico brasileiro. Tudo sobre ele já foi dito por ene ensaios, discursos, estudos, teses, etc.

Apesar disso e apesar de suas obras constarem no currículo da maioria das escolas, não é possível afirmar com firmeza que ele seja realmente lido tanto quanto é citado. Fala-se muito de Machado, mas conhecê-lo é outra conversa.

Há quem diga que os escritores modernos, se sofrem ainda alguma influência de Machado, seria uma influência mais diluída, transmitida por escritores de gerações posteriores e que, como espelhos, deixam refletir imagens do texto machadiano. Este fato, em sendo verdadeiro, pode obscurecer um pouco o valor de Machado para as novas gerações e levar a uma perda de parâmetros, de paradigmas importantes. Um abandono de possibilidades, estas possibilidades que nascem quando a gente cria a partir de uma percepção genial de outro que veio antes de nós.

Para falar diretamente sobre Machado de Assis, podemos dizer que ele rompeu com um mundo, ou pelo menos com uma visão dele. Uma visão mais idealista, eu diria. Até ingênua. Machado foi mais cru que seus antecessores, até que maioria dos seus contemporâneos. Machado foi direto na veia! Mas com que elegância!!! Desenvolveu em sua prosa uma ironia tão elegante que levou a insinuação ao extremo artístico (Borges dizia que, em Literatura, insinuar é muito mais eficaz do que dizer diretamente). Machado fez da malícia algo tão sutil que seus textos se tornaram aulas sobre a natureza humana. Tratou de temas complexos como relacionamentos, valores morais, padrões de conduta que fazem seus enredos permanecerem modernos, porque instigam as raízes dos conflitos humanos sempre recorrentes.

Machado teve a idéia, das mais interessantes de transformar algumas de suas histórias em enigmas e personagens em esfinges. Capitu, personagem de Dom Casmurro, nos convida a decifrá-la. Como não somos competentes para tanto, até hoje nos devora. Afinal, ela traiu ou não traiu Bentinho? No conto A missa do galo, a personagem Conceição é outra construção magnífica. Ela se insinuava ou não ao hóspede de sua casa? Pessoas entre a virtude e o pecado, tentados pelo bem e pelo mal, tomando decisões não lineares, às vezes pouco éticas, baseadas não na razão, mas nas mais profundas emoções. Todos humanos, demasiado humanos, como todos nós.

Machado de Assis não escreveu épicos, tipo Érico Veríssimo. Preferiu entender que o cotidiano também é uma grande revolução que se trava, nas relações entre casais, entre irmãos, entre o homem e o dinheiro, entre pais e filhos. Heróis do dia-a-dia, nos quais somos capazes de nos ver e nos encontrar. Lugar este, o dia-a-dia, onde também se mudam fronteiras, conceitos, a vida vivida, enfim!

Isso tudo sem falarmos do homem, filho de mulato no caldo de cultura da recém acabada escravidão, autodidata e em como ele se inseriu em seu tempo. Metêssemos um olho aí e já teríamos outros enredos, novas nuances machadianas.

Para finalizar, podemos ainda dizer, como Ítalo Calvino em relação aos clássicos, que ler Machado é muito melhor do que não ler. E se alguém achar que é muito esforço, façamos como Sócrates citado pelo mesmo Calvino: Enquanto preparavam a cicuta, Sócrates estudava uma música na flauta. Para que lhe servirá? Perguntaram-lhe os discípulos. Para aprender mais esta música antes de morrer, respondeu.

Aprender é a sina de todo ser humano. E se estamos condenados, irremediavelmente, nada mais natural do que nos rendermos a tudo que há para se aprender antes da morte. Então, para os novos escritores, que estão loucos por encontrar uma forma de romper com velhas formas, resta dar uma olhadinha em Machado. De preferência, uma olhadinha bem funda.

27/08/2008

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