A ingrata revolução silenciosa do incentivo à leitura
Oscar Bessi
A foto, ao lado, é de um menino que faz parte do projeto de incentivo à leitura do Instituto Lambari, em Poços de Caldas (MG). Uma fazenda onde desde o ano 2000 todo um trabalho vem sendo desenvolvido em uma zona rural, projeto que tem continuidade e, inclusive, já conta com um centro educacional construído. Mobilização de apaixonados. Como muitos projetos bacanas que vemos por aí, em escolas ou comunidades.
Porém, este é o grande problema: a necessidade de que as coisas aconteçam pela paixão de alguns. Não dá para ser assim. Não em um país onde os índices educacionais ainda são vergonhosos, onde a cultura do não pensar e da superficialidade encontra campo fértil e farto promovendo o nascer de gerações e gerações de légítimos zumbis. Além, é óbvio, da escalada vertiginosa da violência em quase todos os cantos do país, obviamente ligada ao estímulo da "grife" do crime, seja ele de que natureza for, e do pífio enfrentamento às drogas e às violências diversas pela nossa sociedade organizada, pública e privada.
Não podemos ser tão imaturos e pensar que ações lindas, porém isoladas, terão algum poder de mudança. Há uma revolução silenciosa composta por professores, educadores, escritores, artistas e algumas ONGs que até tenta mudar todo um quadro de debilidade quanto à leitura de crianças, jovens e adultos. O problema é que os resultados não mudam. E não mudam mesmo. Ora, se seguimos péssimos no desempenho escolar de nossas crianças, se prosseguimos formando bandidos aos borbotões, então todos os discursos floridos até agora não foram políticas públicas. Foram mero jogo de cena!
Há projetos maravilhosos. Mas há equívocos enormes. E o maior deles, com certeza, é quando não permitimos a liberdade de escolha para que nasça, na criança ou no adolescente - até mesmo no adulto - o prazer de ler. Não a obrigação, o prazer (faço questão de repetir). Democrático é poder optar, poder decidir o que prefere ler, poder tocar, sentir e escolher. Eis um dos erros mais frequentes, cometido muitas vezes sem a intenção de cometê-lo pelos esforçados e quase sempre voluntários mediadores da leitura - talvez mais pela intenção de lucro e venda de outros, quiçá grandes grupos, que façam parte do processo, e aí sim é algo condenável.
O que se vê é que, de tudo o que se semeia, e já é pouco, um número menor ainda dá frutos. Não empolga, não instiga e não atrai. De trinta alunos de uma escola que "adotou" determinada obra, talvez se crie um novo leitor habitual. Sim, é resultado, afinal de contas. Mas não pode ser melhor? Não poderiam ter sido "adotadas" coleções inteiras de obras diversas? Isto é investir ou gastar? Qual o custo real e total da violência cotidiana e da educação emperrada brasileira? É o que precisamos pensar. E se há a liberdade de escolha, será que não teremos um resultado final mais robusto? Importante é: sim, dá frutos. E se dá frutos, há esperança. Só não podemos nos contentar com pequenas gotas se podemos, e temos como, criar um lago inteiro. E com água para todos.
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