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Zona de sombra é resenhando no jornal O Globo.
Luís Dill


GRAÇA RAMOS

Coluna A pequena Leitura, O Globo.


ADOLESCENTES EXIGENTES

Começo de ano e período de férias. Combinação das mais gostosas para milhares de adolescentes do País, que podem usufruir do tempo sem amarras. Essa geração que se encontra entre 12 e 17 anos tornou-se exigente no sentido de que foi educada muito mais pela técnica da montagem – cinema, televisão, telas de computadores – do que pelas narrativas escritas. Para atrair boa parte deles, textos de ficção em papel precisam fazer frente a esse imperativo. Falarei de alguns títulos que poderão interessá-los por apresentarem modo de narrar menos convencional, ideais para serem lidos nesse verão.

 

Defrontei-me com Zona de sombra (Artes e Ofícios), de Luís Dill, escrito em ritmo de hiperlink. Seria desonesto dizer que a cadência ao lê-lo foi semelhante a de outros tantos livros que já apreciei. Fui levada a ser mais lenta. Precisei recorrer muitas vezes à memória para recuperar trechos da narrativa. Sou leitora egressa do mundo analógico. Entretanto, adepta da tese de que as tecnologias digitais transformaram modos de cognição, ouso dizer ser esse um livro que experimenta uma estrutura diferente, muito próxima dos jogos apreciados por essa nova geração.

Tamara desobedece aos pais e decide ir ao show de seu cantor predileto. Na entrada, após um tumulto, ela esbarra em uma moça ferida, que, de maneira escondida, joga na bolsa da adolescente um objeto. Por causa dele, a protagonista será perseguida por bandidos, e se esconde em feio prédio abandonado. Ali viverá situações de perigo, pois o conteúdo do objeto coloca em risco negociatas de uma empreiteira. Na trama bastante atual, levando-se em conta os permanentes casos de corrupção no País, o ponto de vista adotado é o do narrador em terceira pessoa.

O diferencial encontra-se no modo de construção do enredo. Para cada episódio de perigo, o narrador oferece duas ou três possibilidades de leitura. Por exemplo, a garota bateu na porta do apartamento 101 e o leitor acompanha o encontro dela com outros personagens. Desenvolvido esse episódio, a denominação é minha, o narrador faz um pequeno aviso e propõe outra chave de leitura para aquele evento. “Vejamos o que ocorreria se, após descobrir o gravador em sua bolsa, Tamara resolvesse sair do apartamento 101”, propõe o narrador. Ato seguinte, apresenta outra versão.

Condução – Trata-se de narrador hiperativo, pois capaz de propor muitos retrocessos e adiantamentos no encaminhamento da trama, e também imperativo – ele não persuade o leitor, prefere usar expressões de comando no plural, como “vamos retroceder”, “digamos” e “vejamos” na hora de propor novos caminhos de ação. Ao desconfiar do andamento da narrativa, abrindo o leque de possibilidades, como se quisesse mostrar que poderia haver uma melhor condução da trama a depender da capacidade de imaginação de quem lê, ele funciona de maneira semelhante ao comportamento daqueles que escrevem texto em telas. Como se fossem se acumulando páginas e páginas abertas de internet. Ao propor recuos e modificar o encaminhar dos fatos, ele força o leitor a refletir constantemente sobre os rumos da aventura e também sobre os modos de narrar um mesmo acontecimento.

O tratamento dado pelo autor à condução da trama, ou das tramas, para ser mais apropriada, perfaz aposta de alto risco. O leitor poderá ficar muito curioso e trabalhar a narrativa como se fosse um jogo de combinações, sentindo-se desafiado a elucidar as variadas possibilidades propostas pelo narrador. Ou, talvez, se enfade ao percorrer tantos caminhos que lhe são propostos. No meu caso, houve momentos em que a repetição de algumas descrições – em especial, do edifício “abandonado, invadido, inacabado” – me provocou certo cansaço. Mas, a curiosidade de leitora – e também o olhar de quem analisa e vive a reivindicar livros mais elaborados para o segmento juvenil – me mantiveram na circum-navegação em torno das aventuras da adolescente que vive em Porto Alegre.

Penso que a narrativa de Dill exige um leitor à altura do texto, isto é, familiarizado com este tipo de linguagem, feita de aberturas, de janelas e portas dentro do mesmo espaço narrativo. Talvez por tal peculiaridade venha a agradar adolescentes em busca de novidades na estruturação de romances – ou mesmo adultos que se interessem por técnicas de escrita. 

 

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