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Release: Por uma estética dos vestígios memoriais; releitura das literaturas das Américas a partir dos rastros

Zilá Bernd
Belo Horizonte: Editora Fino traço, 2013. 195 p. R$35,00

Por uma estética dos vestígios memoriais corresponde a uma tentativa de refletir sobre as teorias da memória, não apenas no sentido de acompanhar uma preocupação intelectual que remonta a Platão e Aristóteles, passando por Santo Agostinho (354-430), até chegar aos autores do século XX, como H. Bergson, e a grande plêiade de autores europeus do pós-guerra como M. Halbwachs, P. Nora, J. Le Goff, M. Foucault, T. Todorov, P. Ricoeur, mas também sobre a importância do vivido, isto é do passado. Remontar ao passado, através dos mecanismos da memória, do esquecimento e também da imaginação que preenche os interstícios ou buracos da memória, como prefere chamar Donaldo Schüler, nos permitirá melhor entender o presente e, em consequência, nosso próprio estar no mundo e nosso processo contínuo de construção identitária.     

Trata-se, portanto, de um campo fascinante e inesgotável de estudo, já que a memória perpassa muitas disciplinas como História, Literatura, Patrimônio, Museologia, Psicanálise, mas também práticas do quotidiano, como as artes de fazer, abrangendo a cozinha, a moda, a dança, as expressões artísticas em geral.

W. Benjamin, em numerosos artigos, alertou para a importância dos rastros, ou seja, dos vestígios deixados por certos acontecimentos da História, apesar da tentativa dos opressores de não deixar vestígios de suas ações como a prática de genocídios, de torturas e de destruição sistemática de documentos. Apesar das sistemáticas tentativas de apagamento dos rastros, muitos fragmentos dessas histórias que envolveram até mesmo táticas de exterminação em massa puderam ser recuperados, graças a vestígios que ficaram registrados na memória dos sobreviventes que, aos poucos, foram recompondo, basicamente através de depoimentos orais, o grande quebra-cabeça da destruição.

A intenção da autora foi observar como a literatura participa dessa reconstituição de histórias a partir de detritos, de elementos fragmentares que permaneceram nas memórias individuais e coletivas dos sobreviventes dos processos de deportação em massa como a escravidão, do genocídio praticado contra os povos que habitavam as Américas antes da chegada dos conquistadores e também dos imigrantes que deixaram seus países de origem para viver em países de adoção.   Zilá Bernd analisa as estratégias utilizadas por autores das literaturas das Américas de construir uma memória longa (G. Bouchard) ou de longa duração (F. Braudel), com base na recuperação de vestígios (traces) oriundos de memórias múltiplas em circulação no contexto crioulizado das Américas. Nesse sentido, no entre-lugar de memória, esquecimento e silêncio, criam-se estéticas feitas de vestígios culturais os mais diversos que foram  mapeados, analisados e classificados de acordo com as diferentes estratégias que determinam, de um lado, o trabalho, o dever e os abusos de memória, e, de outro, o esquecimento, o não-dito e os mecanismos ativadores de memórias reinventadas.

Trata-se de uma releitura de obras produzidas entre 1980 e 2013, em situação transacional, ou seja, de negociação de identidades culturais, assegurando o fluxo entre passado e presente e compondo a memória longa em comunidades culturais como as das três Américas que se caracterizam por uma história curta.  Partimos da hipótese de que o contexto cultural híbrido das Américas deu origem a literaturas marcadas por mobilidades transacionais e transnacionais, isto é, aquelas cujas formações identitárias ultrapassam as fronteiras nacionais, gerando novos discursos marcados por entrelaçamentos de vestígios culturais (afro-americanos, migrantes, diaspóricos, autóctones). A autora buscou flagrar o trabalho da anamnese que revela os resíduos oriundos da confluência de memórias voluntárias e involuntárias que estão na gênese da estética dos vestígios, inventando temporalidades que a história foi incapaz de reter. 

Esse ensaio sobre o impacto dos vestígios na constituição do tecido literário contemporâneo das Américas está dividido em três partes.

A Introdução teórica compreende dois capítulos nos quais são recuperados os principais eixos teóricos relativos ao estudo dos vestígios ou rastros memoriais (traces), assim como as estratégias memoriais na e da sociedade contemporânea.

No segundo capítulo, apresentam-se releituras de textos da literatura brasileira contemporânea a partir de uma estética dos rastros. A poesia afro-brasileira é contemplada sobretudo por seu esforço de constituir-se a partir do resgate de memórias transatlânticas, subvertendo o paradigma de que os traumas da escravidão haviam suprimido todo estoque memorial dos descendentes de escravos ou ex-escravos. Ainda na trilha do resgate de memórias da escravidão, relemos o roman-fleuve de Ana Maria Gonçalves, Um defeito de cor,que vai em busca – na confluência entre mito e história –  dos traços deixados por Luiza Mahin, suposta mãe do primeiro poeta afro-brasileiro, Luiz Gama.  Dois autores sul-rio-grandenses são enfocados: Luiz Antonio de Assis Brasil e Letícia Wierzchowski.  O primeiro por sua temática recorrente de trazer à tona, em textos ficcionais, figuras que ficaram à sombra, ou seja, que não passaram à história como figuras de primeira grandeza. Através da recuperação de vestígios memoriais, a história desses personagens é recontada e tirada das sombras do esquecimento.  Quanto à Letícia Wierzchowski, os romances analisados se propõem ao resgate dos rastros memoriais dos imigrantes poloneses, como fotografias antigas e cartas amarelecidas, para a reescritura de uma história que ficara à margem. 

No terceiro capítulo, o contexto são obras da literatura hispano-americana, caribenha e quebequense. Refletimos sobre a palavra sequestrada e o silêncio imposto às mulheres no regime de escravidão, a partir de três autoras das Américas: a chilena Isabel Allende, a guadalupeana Maryse Condé e a brasileira Ana Maria Gonçalves. Apresenta-se, nos tr~es romances analisados, a passagem do silêncio à formatação dos rastros que recompõem o universo da escravidão a partir da ótica das escravas.  Em outro capítulo, aproximamos autores da literatura migrante do Quebec oriundos do Haiti para flagrar os exercícios memoriais que esses autores empreendem no sentido de ir em busca das imagens de seu país natal.  Outro texto é dedicado a dois autores da literatura francófona do Quebec, um dos quais nascido no Brasil, Sergio Kokis, que emigrou ainda jovem para o Quebec. Tanto Kokis quanto Francine Noël refletem sobre a reconstrução de uma identidade americana a partir de vestígios memoriais.  O último texto enfoca, através de uma análise fílmica, um aspecto central na cultura quebequense: a Revolução Tranquila.

 

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