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Música

O choro é livre
Isabel Bonorino


O quarteto gaúcho Camerata Brasileira se apresentou no palco do Teatro do Sesc no penúltimo fim de semana do Porto Verão Alegre 2008.

Ninguém ficou indiferente ao som do grupo, que no começo da apresentação mostrou composição própria já sinalizando ao público que o que se escutaria teria pouco apelo comercial. `Sensação e improviso` começa com um solo de bandolim de Rafael Ferrari, nada harmônico para quem esperava o som que leva à memória do que conhecemos como `choro`, misturado com som eletrônico, que por vezes imitava o próprio bandolim, em uma espécie de ressonância ou eco.

O grande laboratório e seus experimentadores, mais uma vez, entrava em cena buscando o aprimoramento de mais uma de suas obras, no forno há quase dois anos. O choro, como era conhecido do grande público na década de 50, foi transmutado em diversos estilos e tendências musicais, transformando-se no chamado `choro novo`, uma nova tendência em um novo período musical.

Misturado com baião, jazz, samba e até mesmo música eletrônica, o choro novo da Camerata Brasileira faz uma releitura de composições de Pixinguinha, Jacó do Bandolim, Hermeto Pascoal, além de apresentar seu próprio repertório, cheio de recursos que dão ares de novidade ao que já se conhece e se ouve mundo afora. Aliás, essa é a justificativa e definição de Moyses Lopes, violão/voz, que afirma que o choro novo nada mais é do que resultado da conjuntura de fatores como globalização, tempo e espaço, ou seja, nos dias de hoje, podemos estar em casa, seja lá onde for, ouvindo, via Internet, música de qualquer canto do planeta. E isso tudo aliado a uma grande técnica, a uma estética e ao saber fazer música de qualidade, além da história de vida de cada um, reforça o músico.

Essa é a sensação de quem ouve pela primeira vez o produto dessa salada musical feita pelos rapazes do grupo e, também, em outras palavras, a definição dada por Moysés Lopes. Para ele, os ensaios funcionam como um grande laboratório onde experimentam e testam as mais diversas técnicas inerentes aos mais diversos estilos e gêneros musicais, onde o resultado tanto poderia funcionar quanto não funcionar, ou seja, ser descartado ou aproveitado, dependendo exclusivamente do senso estético do grupo.

Depois do show, que é pensando com início, meio e fim, não apenas como um somatório de músicas, é comum estarem ainda com toda a adrenalina que o palco e o público dão e analisarem o resultado obtido no final. O objetivo é reciclar um mesmo show a fim de torná-lo cada vez mais estético aos ouvidos do grupo e do público.

E assim foi. O show começa com a inquietação da primeira música `sensação e improviso`, que consegue atingir o resultado a que se propõe. Realmente, o `improviso` do bandolim de Rafael Ferrari provoca algum tipo de sensação, talvez semelhante àquelas que temos quando ao visitar alguma instalação da Bienal do Mercosul nos deparamos com alguma sala escura onde objetos cuidadosamente escolhidos e colocados meticulosamente em determinados locais são iluminados com luz de discoteca e, simplesmente, aos olhos do grande público, parecem estar jogados de qualquer jeito pelo chão, iluminados por uma luz incômoda, enquanto um som que nos provoca inquietação é repetido incessantemente até que resolvemos ir adiante em nossa peregrinação em busca de ver, sem necessariamente entender, o novo, outras obras.

E chegamos à outra sala. A inquietação inicial se desfaz quando o violão começa a `chorar` uma melodia suave, que lembra vagamente algum estilo musical, talvez o próprio choro, que nos acaricia os ouvidos.

Não foi a toa que, mais de uma vez, os músicos avisaram ao público que iriam `enlouquecer` com seus arranjos. As `hermetianas`, como foi chamado uma espécie de pouporri de Hermeto Pascoal, tiveram mistura de sax e bateria, coisa que não espantaria o músico, acostumado e adorador do improviso, de ver sua obra também transfigurada na mão do grupo para dar sua contribuição à nova estética do choro.

Por falar em choro, nada mais lógico do que chorar, ou ao menos emitir sons em falsete, que tanto podem parecer choro quanto uma fala incompreensível qualquer. Choro de vanguarda, ou choro da velha guarda do choro? Não importa, valeu o resultado.

`Assanhado`, de Jacó do Bandolim, compositor que no dia anterior à estréia da Camerata Brasileira no Porto Verão Alegre, 14 de fevereiro, estaria completando 90 anos de idade, e `Rosa`, de Pixinguinha, também ganharam roupa nova. A expressão de felicidade no rosto dos integrantes do grupo não nega o prazer que estavam tendo em reformar antigas composições como Berimbau. Assim foi também com Tumaraca, versão de Maracatu, que em determinados momentos lembrava a reza, ou canto de algum Mulah afegão em algum mercado de Cabul, orando para Allah. Nada mais natural, afinal a música nordestina tem influência árabe em seus modos, lembrou Moyses.

Cuba também teve influência nas composições da Camerata. Após a participação do grupo no Cubadisco, à convite do governo cubano, em maio de 2007, o novo cd promete mais inovações como a mistura com o hip hop cubano do grupo Cuentas Claras e Camerata Romeu.

Eles querem experimentar, o ensaio é o laboratório, o show nem tanto, mas muitas vezes também, mas no final a flauta transversa e o pandeiro, juntamente com o bandolim e violão deixaram um gostinho de nostalgia e vontade de vê-los experimentando, mas sem fugir tanto do bom e velho choro tão bem executado.

Na estrada há quase seis anos o Camerata Brasileira é formado por Edgar Araújo, bateria, Moyses Lopes, violão, Rafael Ferrari, bandolim e Rodrigo Siervo, saxofone, e conta com dois cds: Deixa assim e Noves fora.


18/02/2008

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Comentários:

isabel so quero que voce escute o que componho faco musica para orquestra clubeccac.nimg.com/profile/sanderricardocarvalhosouza.O que eu faco e inedito no sul e no brasil. me de resposta por favor
SANDER RICARDO CARVALHO SOUZA, RIO GRANE 02/06/2011 - 16:20

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  Isabel Bonorino

Isabel Bonorino é jornalista, radialista e relações públicas. Musicista, dedicou-se ao canto lírico de 1995 a 2005, atuando como soprano nos corais da Ospa e PUC. Foi colaboradora da Revista Literária Blau e produtora/apresentadora na Rádio da Universidade, onde criou o programa "UFRGS em Canto". Atualmente é produtora e repórter da TV Assembléia.

isabel@artistasgauchos.com.br
twitter.com/ISAbonorino


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