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Reflexão

Memes, a origem
Venâncio Zulian

Quase todo mundo sabe o que é um meme. É aquela imagem, palavra, frase ou qualquer tipo de manifestação que passa a ser imitada e repetida pela população. O termo é famoso, mas não é novo. Criado em 1976, pelo biólogo britânico Robert Dawkins, define a tese de que os melhores genes do corpo humano são preservados e retransmitidos de geração em geração, contribuindo para a evolução da espécie.

Da ciência para o âmbito cultural, o equivalente do gene seria mimeme, derivado de mimesis (do grego, “imitação”). A transmissão da cultura de um povo, suas crenças e valores – segundo Dawkins –, se daria pela imitação, repetição e interação. Forçando um pouquinho, dá para dizer que os ditados populares, provérbios, sons e imagens que nos foram transmitidos pelos antepassados podem ser considerados frutos da mimesis, ou “memes do passado”.

A diferença entre os aforismos novos e antigos está no alcance e na durabilidade. Os novos são classificados pelos estudiosos como “memes de internet”. Sua propagação é imediata e abrangente, como um vírus, e sua durabilidade é baixa, às vezes de poucos dias. Seu objeto principal é a imagem, normalmente acompanhada de textos humorísticos.

Já os antigos eram difundidos pela palavra escrita (jornais, revistas e livros) ou falada (rádio, televisão e contato pessoal). Algumas dessas manifestações ficavam restritas a pequenos grupos, como família, comunidade e regiões. Outras, mesmo num processo mais lento, ultrapassavam fronteiras e gerações, persistindo até hoje.

Vou exemplificar. É bastante conhecida a expressão “até tu, Brutus?”. Ela é atribuída a Júlio César, em 44 a.C., morto a punhaladas por várias pessoas, inclusive seu protegido, de nome Brutus. O ditador romano, quando reconheceu o rapaz, teria exclamado a célebre frase que, até hoje, é usada num contexto em que haja traição entre amigos, parentes ou conhecidos.

Acredito que todo o brasileiro já tenha ouvido falar em “vapt-vupt”. Eternizado por Chico Anysio, o bordão se enraizou na linguagem popular e ainda é muito utilizado para se referir a algo que aconteça de maneira muito rápida, ligeira.

Outros memes ficam a nível local ou até mesmo familiar. Eu, por exemplo, tenho um tio que nunca tem problema, tudo para ele é “poblama”. Conheço muita gente que adotou o vocábulo. Até eu, Brutus, seguidamente me pego dizendo: é um “poblama”, como diz meu tio.

Existem pessoas que são verdadeiros mananciais de memes. Uma delas é Seu Severino, também conhecido como Charqueada, ou, mais precisamente, meu pai. O homem é um celeiro de “pérolas”. Neste livro você, leitor e leitora, encontrará algumas delas – e, também, de outros personagens – resgatadas e cultivadas ao longo do tempo. O objetivo é saudar com leveza e alegria a mais nobre forma de comunicação humana: a linguagem, falada, visual ou escrita.


Texto publicado no livro As pérolas do Severino e outras histórias

11/02/2022

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Comentários:

Na verdade não sou apreciador desta configuração de linguagem através da tecnologia. Um canal de comunicação usualmente de juventude. Talvez por não ter habilidade de produção. Penso que estão cumprindo seu papel social na renovação das linguagens mas acho poucos engraçados e outros sem sentido.
José Roberto do Amaral Lobo, Rio de Janeiro 21/02/2022 - 18:16
Excelente texto. As memes, mais do que uma forma de expressão, são linguagem viva.
Luiz Alexandre Kikuchi Negrão, São Paulo - SP 15/02/2022 - 17:37
Acho muito interessante os "memes" popularmente usados e trazidos para a literatura pois característica um linguajar próprio de uma comunidade ou um povo. Mesmo que sejam temporários ou eternos como o do Chico Anisio por exemplo. Adorei o texto. Obrigada &128077;
Marisa Burigo, Osório 15/02/2022 - 09:25

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