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Literatura

Vida, morte e ressurreição das palavras
Cláudia de Villar

Há o tempo em que as palavras se jogam das nossas bocas, como se fossem gotículas de um espirro que não podemos controlar. Elas brotam em nossas entranhas de tal forma incontrolável, que é impossível impedir a sua passagem pela nossa garganta em busca da sua liberdade.

Nesse momento em que elas germinam e brotam às pencas, temos uma vasta colheita. Colhemos seus frutos doces, macios e com aroma de vitória. Cada página escrita é uma mini conquista. Nossa e das palavras livres. É o tempo em que os pensamentos correm soltos pelo nosso ser, e quase sem pedir permissão eles vão tomando corpo e forma nas páginas em brando do papel.

Mas como tudo tem prazo validade e nada é infinito, de uma hora para outra a finitude nos atropela de tal forma que você nem sabe ao certo como se deu sua morte. Se foi de causa natural, se foi de repente, se foi um suicídio involuntário ou te mataram numa esquina. O que sabemos é que nada mais germina, brota ou floresce. Temos a certeza de que os frutos não vão nascer e a folha em branco em nossa frente é a confirmação de que não há mais nada a escrever. O silêncio é recíproco. Nem você e nem o papel querem conversar.

Quando as coisas que te impulsionavam para frente já não fazem mais sorrir seu sorriso, quando as letras já não iluminam seus olhos e quando o gosto amargo da dor e da tristeza toma conta de sua garganta, nada mais importa a não ser suas lágrimas escondidas e compartilhadas com a lua.

Entretanto, todo luto tem seu momento de paz. E, por mais que você pense que nunca mais escreverá uma única linha naquele papel em branco, eis que surge uns rabiscos mal traçados, ainda molhados. A ressurreição não está livre da dor. Porém, ela também não está livre do amor.

O amor que existia entre você e as palavras ressurge, aos poucos, timidamente, com passadas cuidadosas, para não torcer os tornozelos no chão tão conhecido, mas para trás deixados. Há novas pedras nesse caminho, mas há novo reinício. Reaprender a escrever é como reaprender a andar depois de um longo tempo acamado. Um pé de cada vez. Um passo silencioso e corajoso. Mas seguir em frente se faz mais do que necessário, se faz vontade em sua garganta novamente. É o desejo das palavras de se desprenderem da gaiola imposta e outrora acolhedora. Elas querem voar novamente e você, como que num passe de mágica, percebe-se enfim, ressuscitado.

03/11/2021

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  Cláudia de Villar

Cláudia Oliveira de Villar é natural de Porto Alegre/RS e atua desde 2000 como professora de séries iniciais do ensino fundamental em escola pública estadual. Possui doze livros publicados, sendo dez para o público infanto-juvenil e dois para adultos: Eu também... (Alcance, 2005, infantil), Bola, sacola e escola (Manas, 2009, infantil), Zé Trelelé no Gre-Nal (Manas, 2010, infantil), Uma foca na Copa (Manas, 2010, infantil), Meu Primeiro Amor (Manas, 2011, infantil), Aprendendo a viver e ensinando a sonhar (Manas, 2012, adulto), Rambo, um peixe no fandango (Manas, 2013, infantojuvenil), Mano e a boneca de pano (Manas, 2013, infanto-juvenil, O Mistério do Vento Negro, volumes I e II(Imprensa Livre, 2014-2015, juvenil), Um Continho de Natal(Metamorfose, 2016) e o lançamento de 2018: Histórias para ler no Intervalo ( Metamorfose, 2018). Participou de três antologias, Brasil Poeta (Alcance, 2005), Casa do Poeta Rio-Grandense (Alcance, 2005) e Mercopoema (Alcance, 2005) e uma coletânea de contos, Metamorfoses (Metamorfose, 2016). Além do curso de Magistério, Cláudia é graduada em Letras, especialista em Pedagogia Gestora e Supervisão Escolar. Atua no meio educacional também como mediadora de leitura e, como jornalista colaboradora, a escritora é colunista do Jornal de Viamão/RS, bem como escreve para o portal Artistas Gaúchos, Homo Literatus e Almanaque Literário.

claudiadevillar@yahoo.com.br
www.claudiadevillar.com.br
www.facebook.com/claudia.devillar


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