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Raul, uma metamorfose ambulante
Solon Saldanha

O baiano Raul Santos Seixas desembarcou neste mundo em junho de 1945, tendo escolhido Salvador para o seu pouso. Numa vida curta e atribulada – faleceu em São Paulo, com 44 anos –, ele foi compositor, cantor, multi-instrumentista e produtor. Em 26 anos de carreira, lançou um total de 17 álbuns, sendo considerado por muitos como o Pai do Rock Brasileiro. Na realidade o que ele fazia era uma mescla muito bem feita desse gênero com o baião, o que o tornava de fato singular. Mas o começo não foi nada fácil. Seu primeiro trabalho gravado levava o nome do grupo que integrava, nos anos 1960: Raulzito e Os Panteras. A banda era composta por quatro soteropolitanos que vieram juntos tentar a sorte no Rio de Janeiro. Sem aceitação da crítica e do público, chegaram a passar fome. Jerry Adriani os ajudava vez por outra, contratando todos para apoiarem seus shows.

Foi em 1972 que a sorte começou a mudar. Sérgio Sampaio convenceu um cada vez mais cético Raul a participar do Festival Internacional da Canção. E ele terminou se inscrevendo com duas músicas: Let Me Sing, Let Me Sing, que ele mesmo defendeu; e Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo, defendida por Lena Rios & Los Lobos. Para sua surpresa, ambas chegaram até a final. Mas a fama mesmo só chegou quando lançou o disco Krig-Ha, Bandolo!, em 1973. Esse título estranho referia o grito de guerra de Tarzan, que tinha uma revista em quadrinhos com grande tiragem no Brasil, naquela época, editada pela EBAL. Significa “Cuidado, aí vem o inimigo”.

O que ele fez com esse primeiro trabalho finalmente destacado foram muitos amigos e fãs, em especial com três das faixas, que atingiram os pontos mais altos nas paradas de sucesso: Ouro de Tolo, Mosca na Sopa e Metamorfose Ambulante. Nessa época adquiriu a fama de ser contestador e místico, isso porque era influenciado por figuras como o ocultista britânico Aleister Crowley. No álbum do ano seguinte, Gita, tudo foi reafirmado com Sociedade Alternativa, não apenas uma música como também uma ordem filosófica com sede alugada, papel timbrado e até mesmo inacreditáveis relatórios mensais. Seu parceiro nessa empreitada foi o escritor Paulo Coelho. Hoje chega a ser engraçado escrever sobre isso, mas a letra de Como Vovó Já Dizia, que fizeram juntos, chegou a ser censurada. Quando a apresentaram pela primeira vez, a polícia apreendeu um “gibi-manifesto” que eles haviam produzido, queimando todos os exemplares, uma vez que foi considerado “material subversivo”. Acabaram ambos presos, torturados e exilados, porque o governo militar acreditava piamente que a sociedade revisitada, que eles propunham, fosse um movimento armado.

Voltando à trajetória de Raulzito, se engana quem o possa considerar por isso um seguidor cego de preceitos religiosos. Ele era agnóstico e se interessava profundamente tanto por filosofia quanto por psicologia, literatura e história. Conhecia o latim e lia bastante sobre metafísica e sobre ontologia. Isso tudo depois de um desempenho sofrível na escola primária regular. A família de classe média chegou a fazer sua matrícula no Colégio Interno Marista, com esperança de que se dedicasse mais, sem sucesso. Preferia frequentar a vasta biblioteca que seu pai mantinha em casa e preencher os cadernos escolares com os desenhos dos personagens que criava, após as leituras.

O seu personagem predileto era um cientista que viajava por lugares imaginários. Ele os identificava por nomes como Nada, Tudo, Xis ao Cubo, Vírgula e Oceano de Cores, entre outros. Tudo isso através de uma máquina que permitia que apenas uma pessoa se deslocasse: o tal cientista. Essa capacidade toda já demonstrava sua inteligência de fato privilegiada e a criatividade depois aplicada nas letras de suas canções. Depois de adulto, chegou a explicar numa entrevista o que sentia nessa fase da vida. Segundo ele, seu fracasso na escola foi devido ao fato dela não dizer a ele nada do que queria saber.

O “Maluco Beleza”, entretanto, sempre soube o que dizer para todos. Foi muito profícuo, sem que as letras deixassem de ser ácidas e contundentes. Eram no mínimo repletas de significados, que confundiam críticos e em especial censores. Mesmo assim, em mais duas oportunidades obras suas acabaram proibidas: Rock das Aranha e Aluga-se. Eclético, chegou a ter um especial infantil na Rede Globo: Plunct, Plact, Zuuum. Seguiu colecionando sucessos como Há Dez Mil Anos Atrás, O Dia Em Que a Terra Parou e Tente Outra Vez. Ganhador de vários Disco de Ouro, um deles póstumo, faleceu em 21 de agosto de 1989, vitimado por uma pancreatite aguda fulminante. Diabético, não aplicara insulina no dia anterior. Passados 32 anos, o “Toca Raul” segue sendo um dos pedidos mais frequentes em casas que oferecem música ao vivo.

O bônus de hoje é duplo. Primeiro uma publicidade feita em conjunto pela Samsung e a Vivo, referenciando os 25 anos sem Raul Seixas. Foi uma criação surpreendente da agência África, mostrando homens das cavernas que se deparam inesperadamente com tecnologia futurista e acesso à internet. A trilha usada é Metamorfose Ambulante. Depois temos um videoclipe de O Dia Em Que a Terra Parou, gravado para o programa Fantástico, da Globo, em outubro de 1977. A letra desta segunda lembra muito a situação que estamos vivendo atualmente, com a pandemia.




06/05/2021

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  Solon Saldanha

Solon José da Cunha Saldanha, graduado em jornalismo, tem especialização em Comunicação e Política, além de mestrado em Letras. Com experiencia na mídia impressa, rádio e assessoria de imprensa, atua como revisor estilístico de textos e professor universitário. Escreve contos e crônicas.

solonsaldanha@gmail.com


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