Caro leitor, peço desculpas adiantadas por não escrever um texto de Natal estilo “Polyanna” ou “La Vie em Rose” (a vida cor de rosa), em que tudo soa como sinos badalando e vemos alegria nos rostos das crianças. Esta crônica me saiu assim, amarga...porque este é o meu espaço para algumas reflexões sobre o Natal e o ano de 2016 que chega a seu fim.
Quanto ao ano que chega ao fim, digo que o que me faz acreditar na humanidade é quando vejo os jovens se articulando e vários setores da educação e da classe média do país unindo-se em prol de reivindicações sobre a cultura e a educação. Quando vejo as pessoas saindo às ruas por melhores condições de vida, para que o Estado passe a agir e a existir de fato.
E o que me entristece? A surdez monumental dos políticos, que fazem o que bem entendem dentro e fora do Congresso Nacional, e aqui no Rio Grande, dentro e fora do Palácio Piratini e da Assembleia Legislativa. A surdez dos políticos é tão grande, que num período de crise econômica e institucional do país, eles se locupletam com aumentos, e, não bastassem os seus aumentos, ainda inflacionam outros setores já muito bem pagos. Enquanto isso, temos greves de policiais, professores, médicos...porque ninguém aguenta mais arriscar a própria vida, ou pegar dois ônibus e trabalhar 40 horas em escolas diversas, ou ainda atender gente morrendo pelos corredores do SUS, sem ter um mínimo retorno que seja para o pão nosso de cada dia.
Do mesmo modo que os cidadãos comuns já não aguentam mais ser taxados, pagar impostos e não ter nada em retorno, tampouco os artistas e aqueles que patrocinam as artes aguentam o tirão da crise. Neste ano de 2016, com pesar, 2 livrarias de bairro, famosas por seus cursos e saraus, a SapereAude e a Palavraria, fecharam as portas. Além disso, as editoras, pequenas e grandes, estão também tomando o mesmo caminho: a Cosac&Naif deixou de existir, e outras editoras se não deixaram de existir, pelo menos não avançam em publicar e patrocinar novos projetos de livros. Ou seja, num país onde os livros perdem importância, as artes já não são mais patrocinadas por ninguém e o que sobra é o entretenimento grosseiro, teremos em breve um batalhão de cidadãos inebriados pelo pagode e pelo funk e pelas drogas, e jamais cidadãos pensantes, críticos, capazes de mudar o estado das coisas. A quem serve a ignorância de um povo? Aos “Salvadores da Pátria”, de plantão, aos corruptos, aos políticos da pior espécie...Como já diziam os Romanos, para governar é preciso dar “pão e circo ao povo”. Bem, como “pão” temos o já roto bolsa família...e como circo? O espetáculo de fogos e samba e axé que foi da meia-noite do dia 24 até as 7:30 da manhã do dia 25 na Concha Acústica – perto da beira-rio de Porto Alegre. Eu pergunto ao caro leitor: quem patrocinou o espetáculo do povão? A resposta é: todos nós!
Finalizo esta crônica, um tanto amarga, é verdade, dizendo que apesar de tudo, ainda vejo uma luz no fim do túnel. Nosso país passa por grandes transformações, talvez seja esta a hora de nos empenharmos em sermos cada vez mais voz ativa e não passivos diante de uma tela de TV. Digo, que apesar de tudo, ainda acredito na Educação e na Cultura como saídas viáveis para o nosso povo e a nossa nação. Que possamos em 2017 erguer estas duas bandeiras. E que este Natal sirva para nos alertar do que realmente necessitamos. Como já dizia uma música dos Titãs, “O homem não quer só comida, ele quer comida, diversão e ARTE” ( se estou bem lembrada, é claro!) Enfim, que a Arte e a Espiritualidade sejam nossos pilares, junto com a Educação e a Ética na construção de um Ano Novo, de um país diferente, de um mundo novo.
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