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A lição do simples
Paulo Tedesco

Datilografar era treino incessante, intermitente. As escolas mais exigentes treinavam seus alunos em máquinas onde no lugar dos números e letras haviam diferentes cores, que serviam como guia para todos os dedos das mãos; a cada um, uma função específica no teclado. O bom datilógrafo preenchia a página ao ritmo de uma orquestra sem observar o teclado em que percorriam seus dedos. Em verdade, a datilografia e seus sonoros tec-tecs eram vistos como certo tipo de música que pedia nada mais do que regras e muita prática.

Acionáva-se a alça à direita ao fim de cada linha, correndo-se o carro do rolo para o centro da máquina e dáva-se início à nova linha. O curioso baile de dedos e braços, a cada tec-tec  construía a mancha de texto na folha branca. Erros de digitação eram mais do que frequentes, para desespero dos nem tão hábeis na máquina. Mas não se podia parar, o texto precisava aparecer, e, quem sabe, ser refeito com mais acuro na busca da perfeição.

O avanço da eletrônica e do digital, passado algum tempo, nos trouxe as máquinas elétricas, e depois as eletrônicas. Com essa evolução, a máquina de escrever sofria suas últimas mutações. Espécie de epílogo de uma longa e incrível história. Rolar a folha para cima, trocar de linha, aprumar as margens, corrigir os erros da digitação, o travar dos tipos borrando o trabalho e sujando as mãos, a troca de rolos das fitas, foram desaparecendo com as mais modernas, e não menos caras, máquinas eletrônicas de datilografia.

Mas ainda se fazia necessário imprimir enquanto se escrevia, bem como fazer uma cópia fiel ainda exigia o uso do papel carbono, do contrário, somente as cópias mimeografadas (as fotocópias demoraram a baratear). Nos estertores, caros modelos de máquinas, que permitiam salvar na sua memória o que por último havia sido escrito, surgiram para tentar corrigir essas necessidades, e, com isso, se poderia redigitar automaticamente o mais recente trabalho, sem outro esforço do que repôr a folha na máquina. Mas tal coisa era para milionários, muitos jamais abandonaram a digitação inteira e absolutamente manual.

Embora nos sintamos obsoletos a exemplo das nossas queridas Remingtons e Olivettis esquecidas pelos armários, é preciso crer na conservação do passado como a melhor lição do simples. Visto a impressionante proliferação de produtos digitais e sua constante atualização, a  gerar gastos e mais gastos, e a consequente poluição pela rápida descartabilidade, que nos assusta e a diário gera novas demandas de utilização e conhecimento, não pode haver outra e melhor regra do que a busca da simplicidade. E, nesse quesito, as mais rudimentares das máquinas de datilografia, com toda sua história e contribuição com a produção do conteúdo escrito, eram, e são, nada mais do que exemplares.


18/05/2015

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  Paulo Tedesco

É escritor de ficção, cronista e ensaísta, atua como professor e desenvolvedor de cursos em produção editorial e consultoria em projetos editoriais, também como orientador em projetos de inovação em diferentes setores. Trabalhou nos EUA, onde viveu por cinco anos, nas áreas de comunicação impressa, indústria gráfica e propaganda. É autor dos livros Quem tem medo do Tio Sam? (Fumprocultura de Caxias do Sul, 2004); Contos da mais-valia & outras taxas (Dublinense, 2010) e Livros: um guia para autores (Buqui, 2015). Desenvolveu e ministra o curso de Processos Editorais na PUCRS e coordena o www.consultoreditorial.com.br atendendo autores e editores. Pode ser acompanhado pelo seu site, pelo Facebook ou pelo Twitter.

paulotedesco@consultoreditorial.com.br
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