Vera Karan morreu.
Dramaturga e contista, estava solidificando sua carreira nacional de escritora. Mas o tempo foi curto, o suficiente para aguardar o Ano Novo, apenas para que a posteridade não alegasse que desconhecera a Era Lula, como está sendo chamado o novo governo.
O nome de Vera Karam começou a pipocar na imprensa e fui descobrindo a nova dramaturga aos poucos. Seus textos foram apresentados nos teatros e virou talento: Ano novo vida nova (prêmio Qorpo Santo, 96 e prêmio Açorianos, 97), Nesta data querida, O assassinato de miss Agatha, Maldito Coração (vários prêmios), Dona Otília lamenta muito.
Conheci Vera num dos tantos encontros de gente de teatro e, logo na primeira vez, conversei com uma pessoa afável, humana, singela. Na segunda vez que nos vimos ela beijou-me como se fossemos velhos amigos. Apesar da fama que já desfrutava, eu querendo entrar para o time, pouco conhecido.
Ela dedicou-se a ministrar oficina de dramaturgia, continuou escrevendo e publicou dois livros: Há um incêndio sob a chuva rala (Ed. Mercado Aberto) e Dona Otília e outras histórias (WS Editora).
Em todas as vezes que a vi, não percebi seu drama, sempre o sorriso, a tranquilidade no semblante. Soube da sua doença e do estado de saúde preocupante, ela hospitalizada, o Assis Brasil passando e-mails pedindo doação de sangue aos conhecidos. O velho Assis cuidando dos seus pupilos. O Walmor Santos também.
Vera trilhou os caminhos alternativos da vida, professora de inglês, tradutora, atriz, escritora, mulher elegante, logrou muitas vitórias e só uma derrota mas, nesta última, estabeleceu condição: antes de 2003, não!
Morreu no dia primeiro de janeiro de 2003, às 9,30 horas.
Agora Vera está na sua derradeira viagem, apenas passagem de ida. Deixa a sua bagagem para que possamos revolvê-la, examinar suas minúcias, o seu perfume e os cadernos de letras, para a montagem da fotografia final.
Irei revisitá-la nos palcos dos teatros e nas páginas do textos que permanecem em espaço reservado na minha estante.
Boa viagem, Vera Karam, até um próximo beijo amigo
Pois o destino tem suas ironias. Neste ano de 2015 coordeno oficina de criação literária no Santander Cultural. Quem surge para participar? Dona Margot, mãe de Vera.
E presenteou-me com grosso volume das obras de Vera, edição do Instituto Estadual do Livro, 2013. É como se Vera tivesse retornado para abraçar-me. E Margot, no alto dos seus oitenta anos, está com uma história maravilhosa para narrar, a de uma princesa moradora de rua.
Vera Karam não morreu.
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