No último dia 02, a Amazon lançou o Kindle 2.0. O novo leitor de e-books, disponÃvel para compra a partir de 24 de fevereiro, tem capacidade de armazenar aproximadamente 1.500 tÃtulos. Atualmente, o site da Amazon dispõe de 90 mil tÃtulos para venda, sistema parecido com o Itunes. O usuário do Kindle tem a possibilidade de conectar o leitor à rede sem fio e adquirir os tÃtulos preferidos.
O pensamento de que tecnologias como a do Kindle acabarão com o velho e bom livro anda no ritmo da atual angústia desenfreada pelo novo. O último modelo de Televisão ultradigital, a última palavra em celulares que cozinham pipoca, a superinovação em transmissão de dados. Besteira. Boa parte do que nos é oferecido não passa de besteira. Portanto, se, no futuro, as pessoas lerem histórias inteiras sobre lâminas de cristal lÃquido, a verdadeira diferença deverá estar no conteúdo. Grandes histórias, cheias de hiperlinks, existem antes mesmo da escrita, Homero que o diga. O que sustenta a boa literatura é o texto , não o meio.
Dessa forma, acredito que “atual” é saber transitar pelo novo sem falar em nome da novidade. Tem que soar autêntico, natural. Um ótimo exemplo disso é o livro de contos Trocando em Miúdos, lançado por Luiz Paulo Faccioli no fim de 2008. Na antologia, Faccioli apresenta quinze contos livremente inspirados nas músicas de Chico Buarque. Mesmo tratando-se de prosa, o leitor percebe o ritmo da lÃrica suburbana de Chico em belos contos, como Coração Suburbano II, no qual a protagonista apenas busca um amor para lhe acompanhar. Leitura que tem encontro marcado com a trilha sonora.
Misturar literatura e música também é a proposta da Mojo Books (http://mojobooks.virgula.com.br). Desde 2006, a editora disponibiliza aos internautas e-book de ficção inspirada em música. Hoje, a editora soma 112 livros lançados, 115 singles e mais 5 quadrinhos. Entre os autores, nomes de todos o paÃs como o Marcelino Freire, que emplacou na Mojo com uma livre versão de minicontos inspirados no genial disco de Stan Getz e João Gilberto. A Mojo não tem preferências por estilos musicais, só restringe que a referência ao disco deve ser mantida no campo da inspiração, ou seja, não são permitidas referências diretas à s letras das músicas, traduções ou versões.
Criar a partir de outra linguagem, explorando formas, conectando sentidos sem ter a pretensão de soar inovador: creio nesse caminho. Certa vez, Charles Kiefer me falou: há autores que inovam e há os que são lidos. Não prego para que se deixe de lado a tecnologia, muito menos as inovações estéticas. Porém, acredito plenamente que, mesmo com tanta tecnologia, só o conteúdo transforma o homem. Tanto no Kindlen quanto nos aedos, boa literatura é universal.
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