O ano terminou e, junto com ele, o fim da maratona de concertos e recitais
natalinos em várias cidades gaúchas. Alguns projetos já
têm uma longa estrada, outros são novos, mas em comum o mesmo resultado:
centenas de pessoas lotam praças, parques, igrejas buscando um espaço
para assistir nossas orquestras, solistas e corais. Em Porto Alegre, duas grandes
orquestras movimentaram centenas de profissionais para seus últimos compromissos
do ano.
Um dos locais já tradicionais para concertos ao ar livre é o
parque Moinhos de Vento, o Parcão, como é conhecido pelos porto-alegrenses.
Diariamente o local é ocupado por quem quer fazer caminhadas, corridas,
passeios ou simplesmente para tomar um bom chimarrão com os amigos.
O concerto do dia 14 de dezembro, inicia às 20 horas, mas o público
começa a chegar no início da tarde, curioso para ver o que está
acontecendo. A movimentação do pessoal que faz a passagem de som
anima quem resolveu dar uma conferida e já curtir um pouquinho do show
que está por vir. Quem mora perto, dá uma passada e volta mais
tarde ou assiste da janela ou da sacada do seu apartamento.
Entra em cena o projeto Concertos Comunitários Zaffari, com Coral e
Orquestra Filarmônica da Puc, que completou, em 2008, 21 anos de apresentações
por todo o Estado.
O dia nublado de verão, mas com temperatura amena, previa que a chuva
não estaria presente no evento, garantindo mais uma vez o sucesso da
produção que contou com dezenas de profissionais e milhares de
expectadores.
Aquecendo corpo e alma
Pouco antes do início do concerto, o clima é de concentração
nos camarins e nas adjacências onde o grupo se reúne. São
solistas, músicos, coralistas, além de bailarinos e da produção
do evento.
O baixo Pedro Spohr, professor de técnica vocal, começa uma sessão
de aquecimento com o coro. O chamado `vocalize` é responsável
por aquecer as cordas vocais dos cantores, que trabalhadas da forma correta
possibilitam maior e melhor alcance de agudos e graves de todos os naipes. Vestidos
com longas batas vermelhas, sopranos, contraltos, tenores e baixos se preparam
para o último concerto do ano. Feito o aquecimento vocal, é hora
de aquecer o coração e a alma. O maestro Frederico Gerling Júnior,
do alto dos seus 83 anos, se aproxima do grupo e todos de mãos dadas
oram agradecendo o bom ano que passou e desejando um concerto maravilhoso para
todos. Esse ritual é normal e conhecido pelos que acompanham Gerling
Jr. O vigor e a alegria do velho maestro são exemplo para vida de qualquer
jovem de menos de 80 anos que o veja em ação.
Os solistas, em seus camarins, também fazem seu aquecimento. A soprano
Adriana de Almeida, diretora do Instituto de Cultura Musical da PUC/RS, responsável
pelo evento em conjunto com a Opus, tem trabalho em dobro. Além de se
preocupar com sua própria preparação para o espetáculo,
fica atenta à produção do evento.
Emoção e beleza em canto
Na hora marcada para começar o concerto, o maestro lentamente sobe ao
palco para receber os primeiros de tantos aplausos que receberá na noite
agradável de dezembro. O carisma de Gerling Jr. é evidente não
só pelo olhar carinhoso do coral, mas com o do público que lota
a quadra de esportes do Parcão e acompanha atento o espetáculo
e a fala do regente. Depois de vinte e um anos de concertos, realmente seria
improvável não ser assim.
A apresentação teve presença dos solistas Adriana de Almeida,
Marcello Vannucci, Panta, Flávio Leite e Pedro Spohr, que deu um show
à parte fazendo o público dançar com o clássico
gospel “Oh, happy day”. O repertório também contou
com obras de Rossini e Mendelssohn, além das tradicionais músicas
de Natal.
Neste ano, o evento conhecido por trazer atrações nacionais,
teve presença do cantor Guilherme Arantes, que encantou a platéia
com sucessos como Coisas do Brasil e Planeta Água. Também o Ballet
Concerto, de Victória Milanez, fez uma bela apresentação
utilizando mais de 400 peças de figurino trazendo a magia do Natal com
anjos e até uma Virgem Maria. Entre músicos, coral, bailarinos
e produção, uma equipe de cerca de 300 pessoas foi mobilizada
para o evento que encerrou com a tradicional queima de fogos.
Então, é Natal?
Na Praça da Matriz, na noite de 18 de dezembro, centenas de porto-alegrenses
foram conferir a sexta edição do Natal na Praça. Dessa
vez, entram em cena a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e seu coral
com o concerto “Uma Noite em Viena”. Apesar de o nome remeter às
famosas valsas vienenses, logo no começo, uma surpresa: um terno de reis
anunciava a chegada do menino Jesus. A tradição portuguesa teve
um sotaque que mais lembrava o folclore nordestino e admirou o público
que não tinha acesso às cadeiras colocadas apenas para convidados
(em grande parte, familiares de músicos e coralistas, além de
políticos e assessores). A professora Zenaide Machado achou a mistura
meio esquisita, comentando que já que queriam inovar, seria mais interessante
um terno de reis mais gaúcho.
Até o coral parou para assistir ao concerto
(foto Itamar Aguiar – Palácio Piratini)
Santinhos fora de época
O maestro Isaac Karabtchevsky iniciou o concerto e logo chamou a governadora
Yeda Crusius, que prestigiava o evento para receber do presidente da Ospa, Ivo
Nesralla, um quadro onde foi fotografada junto à orquestra pelo artista
Leonid Streliaev. O regalo foi uma retribuição à governadora
pela acolhida à orquestra, que está ensaiando no Palácio
Piratini enquanto o novo teatro não é construído. “Temos
o orgulho de ver que o Estado tem uma orquestra maravilhosa como essa",
afirmou Yeda.
Na seqüência do concerto, ao executar a valsa Contos dos Bosques
de Viena, de Strauss, Karabtchevsky convidou quatro casais para acompanhar a
música dançando. Novamente a Governadora, juntamente com seu marido,
Carlos Crusius, rouba a cena do evento, e atende o maestro, seguida por outros
casais. Os aplausos à Yeda revelam que sua estratégia de marketing
está dando certo. “Tá certa, política se faz o ano
inteiro; só falta ela trazer os santinhos”, comenta o advogado
José Goulart ao ver a cena.
Concerto para a juventude reclamar
As valsas foram intercaladas com as tradicionais canções natalinas
cantadas pelo coral, tirando um pouco da graça das mesmas, costumeiramente
feitas em bloco. A vendedora Valquíria Mércio, de Canoas, que
o diga. Resolveu trazer os sobrinhos Ademar, Thiago e Rafael ao concerto para
apresentar aos meninos de 10, 9 e 8 anos, respectivamente, músicas diferentes
das conhecidas por eles. Porém, a tentativa não teve muito sucesso:
a gurizada achou o concerto meio chato e sem graça. Na tentativa de uma
nova avaliação, perguntei se realmente não gostaram de
nada mesmo e surgiram novas respostas. Instrumentos como flauta e o violino
e também o canto coral chamaram a atenção dos meninos,
para alívio da tia que já se envergonhava da sinceridade das crianças.
Valquíria e os sobrinhos: empolgação mesmo só para
tirar a foto
(foto: Isabel Bonorino - AG)
Fogos salvadores
A comemoração também contou com fogos de artifício
e toques dos sinos da Catedral Metropolitana, além da chegada do Papai
Noel e a benção do arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings.
Quem acompanha os concertos na Praça da Matriz há mais tempo afirma
que ao contrário do que se esperava o evento não tem evoluído.
“Ano passado já cancelaram por causa da chuva. Este ano, a praça
está bonita, mas o concerto não teve nada demais”, lamenta
a aposentada Maria de Fátima Nascimento.
No mesmo dia e quase no mesmo horário, no teatro São Pedro, a
Orquestra Sinfônica de Santa Maria realizava concerto com os solistas
Rami Ritter e Leniza Mena Barreto. Cerca de vinte concertos foram realizados
na região metropolitana e nas principais cidades do Estado, somente no
mês de dezembro. Os números mostram que cada vez mais a música
lírica ganha espaço no Rio Grande do Sul. E que venha 2009!
Os tradicionais fogos de artifício encerram o Natal na Praça
2008
(foto Itamar Aguiar – Palácio Piratini)
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